POR QUEM OS SONHOS ACALENTAM

Percebo que os sonhos nunca morrem, apenas hibernam durante um tempo à espera do verão. Na primeira oportunidade proporcionada pela vida lá vêm eles retornando com a mesma força de outrora e maior ímpeto. Há um recôndito no coração onde eles procuram refúgio quando são acossados por alguma razão circunstancial, e por lá ficam sob o véu do silêncio e do pretenso esquecimento, latentes, vivos mais que nunca, aguardando melhores dias para brotar com a mesma intensidade arrebatadora de quando nasceram. Porque os sonhos são semelhantes aos heróis e não desistem de lutar bravamente para sua concretização ainda que os poderes contrários à sua idealização se sobreponham na vanguarda. Dá-se o caso, além do mais, de serem acalentados dia após dia por quem os embala e por eles vela pressuroso. Além do mais, todos sabemos o quanto é bom cultivar sonhos.
Não importa o passar dos anos, vale a certeza de sermos conduzidos pelos sonhos que acalentamos ao longo do tempo. Evidentemente, no prosseguir dos nossos dias os sonhos enfrentam os canhões da dura realidade, mas convenhamos há sonhos e sonhos. Aqueles factíveis permanecem e em algum tempo da existência podem sim tornar-se palpáveis, muitas vezes depende somente da passagem do tempo ou de algum acontecimento fortuito capaz de torná-lo evidente e vivo. Os outros, os quiméricos e impossíveis, são apenas ânsias natimortas, pensamentos esparsos que, em volutas elípticas, sobrevoam os meandros dos que sonham meramente por sonhar sem qualquer consistência idealística. Porque, não tenham dúvida, sonhar é querer, desejar algo provável e lutar para fazer real essa possibilidade.
Os atropelos e as vicissitudes decerto tentarão forçar empecilhos para a frustração de quem caminha entre devaneios porque a vida realmente não cede, apenas, à vontade humana, e as forças, ocultas ou não, lutarão para desfazer em lágrimas esses sonhos. A persistência, todavia, será uma arma poderosa para continuar perseguindo esses anseios escondidos no recôndito d’alma. Não sendo sonhos factíveis, mas sim mirabolantes, que sejam guardados para si mesmo ou divulgados somente para quantos comungam com os seus pensamentos. Fora desse prisma, é albergá-los nalgum aconchegante cantinho do coração e com eles extasiar-se nos seus momentos de descontraída solidão. Tenho que sonhar traz grandes benefícios à alma e ao próprio organismo humano, detalhes que podem ser perceptíveis nos sorrisos expressos espontaneamente e no corpo sem resquícios de transtornos tão usuais naqueles entregues à tristeza e à melancolia.
Os poetas que nos enternecem com suas poesias maravilhosas sonham diuturnamente, bem sabemos disso, parecem viver sempre no mundo da lua como o vulgo afirma, mas por isso mesmo são tão inspirados e criativos, tão líricos e românticos, e felizes com seus constantes e cândidos devaneios. Os poemas de sua lavra evidenciam esse viajar por um além-mundo especial, ao qual só temos acesso por intermédio de sua produção poética. Já no tocante aos outros adeptos da literatura, e mais que sonhar, os escritores como que vivem os próprios sonhos quando escrevem suas obras emocionantes. Ao longo do dia, enquanto vão escrevendo, certamente estarão sonhando, vivendo e lutando as mesmas batalhas e anseios com seus personagens. A própria vida humana não é mais que um lindo sonho, é evidente, se bem que alguns que por ela passam tenham pesadelos durante a jornada e esqueçam de deixar-se levar, por momentos, à nau dos sonhos. Sonhemos, tenhamos em nossa mente essa poderosa arma invisível destruidora das reflexões nocivas. Todavia, sejam esses sonhos oriundos da alma e do coração.
Gilbamar de Oliveira Bezerra
Enviado por Gilbamar de Oliveira Bezerra em 15/04/2008
Código do texto: T946807
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