A TRISTE SINA DA FAMÍLIA FAZANOS

A TRISTE SINA DA FAMÍLIA FAZANOS

Começarei contando o caso do Agnaldo Fazanos, mas poderia começar por qualquer outro, pois todos têm em comum o mesmo triste e macabro aspecto. Agnaldo Fazanos nasceu em 14 de maio de não importa que ano, como logo entenderão. Após viver cinqüenta e quatro anos o Dr. Agnaldo Fazanos morria, em seu consultório dentário, de ataque cardíaco fulminante. Até aí nada de extraordinário, certo? Certo. Foi enterrado no dia seguinte, 15 de maio.

Ora, mas que coincidência, devem estar pensando os mais observadores de vocês; ele nasceu e morreu no dia 14 de maio! Pois é justamente aí que mora o problema: não foi uma mera coincidência, do tipo que acontece às vezes com a família Tavares, Lucena, Fonseca ou Albuquerque; é uma sina, a triste sina da família Fazanos! Todos os seus membros não têm dia certo para nascer, como todo mundo, mas têm dia certo para morrer, como ninguém mais. Um Fazanos nasce e morre rigorosamente no mesmo santo dia!

Vou contar para vocês alguns dos casos mais curiosos da família que chegaram ao meu conhecimento. O caso do Paulo Fazanos Júnior é um deles. Ele nasceu no dia 27 de março e morreu no dia 20 de março. Sua morte foi mais comemorada do que lamentada pelos familiares. No concorrido enterro, porém, o Sr. Paulo Fazanos comunica, consternado, que, na verdade, o "Juninho" nasceu "pra valer mesmo", “na vera”, foi no dia 20, e que apenas foi registrado uma semana depois, como tendo nascido no dia 27, num frustrado artifício de ludibriar a "Dona Morte", que talvez não se sentisse à vontade de levá-lo no dia 20, no qual oficialmente não havia nascido, nem no dia 27, no qual nascera apenas oficialmente.

Tem também o curioso caso da Maria das Graças de Almeida Costa, nascida e "morrida" em 26 de agosto. Seus pais, Maria de Fátima de Almeida Costa e Flávio Fazanos, resolveram livrar a filha daquela pesada cruz não batizando-a com o sobrenome paterno. Foi assim que descobriram, com grande sofrimento, que o problema é mais grave do que aparentava ser. Não é o sobrenome Fazanos que, a rigor, mata: é o sangue dos Fazanos! Devido ao fracasso, o pai mandou gravar sobre a sepultura da filha os dizeres: AQUI JAZ MARIA DAS GRAÇAS DE ALMEIDA FAZANOS.

"Ora, mas se o problema é o sangue, ataquemos o problema!", pensou o Sr Célio Figueira Fazanos, e empenhou-se por muitos anos em convencer um médico, amigo seu, a fazer-lhe uma transfusão total de sangue. Cinco anos após a transfusão morreu de .............. bom, não me lembro agora de quê, mas me lembro muito bem de quando: no dia do "Parabéns pra você"!

Não poderia deixar de contar também o caso do José Carlos Fazzanos, o Juca Fazzanos. Não, não, eu não escrevi o nome errado não. O sobrenome do Juca era com dois "zs" mesmo. É claro que a coisa não deu em nada, pois se nem tirando o sobrenome inteiro a Maria das Graças conseguiu alguma coisa, que esperança poderia ter o Juca com uma simples mudança de grafia?

Agora deixa eu contar uma curiosidade: a família Fazanos entrou por duas vezes no livro dos recordes. O primeiro recorde eu nem preciso dizer, certo? Tem o maior número de pessoas de uma mesma família com data de nascimento e óbito no mesmo dia. O segundo recorde é que é mais difícil de descobrir: o maior número de pessoas de uma mesma família nascidas no dia 29 de fevereiro! Afinal de contas, para quem sabe que vai morrer no dia do aniversário, nada como deixar para sofrer só de quatro em quatro anos, nos anos bissextos. Prática comum na família Fazanos é "encomendar" os herdeiros em junho dos anos anteriores a anos bissextos, de modo que a gravidez complete nove meses em março, lá pelo meio do mês. Assim, se tudo der certo e o neném não nascer prematuro, no dia 29 de fevereiro é feito a cesariana e nasce o felizardo!

Quando o assunto é morte não tem como escapar: a gente sempre acaba esbarrando num caso mais trágico, como o caso do Astolfo, coitado! O Astolfo, na véspera do seu aniversário, sofreu um acidente de carro. Uma coisa horrível! No hospital a junta médica foi implacável: a vítima não resistiria mais que algumas horas. Juntando-se a este prognóstico o fato de que daí a poucas horas era o dia de seu aniversário, a família nem pestanejou: mandou publicar uma nota no obituário do jornal de maior circulação da cidade, comunicou o enterro aos parentes (veio gente do Maranhão para São Paulo para o enterro!), contratou funerária, comprou coroa de flores, enfim, fez tudo o que se faz quando alguém morre. Só faltou esperar que alguém morresse antes de fazer tudo o que fizeram! Pelo que sei o Astolfo está vivo até hoje, e antes de novembro é certo que ele não morre!

Mas alguém já deve estar pensando: ninguém nunca se suicidou (sem ser no dia do aniversário, é claro) nessa família? Já. Mas depois das primeiras tentativas frustradas o pessoal começou a se suicidar só no dia do aniversário mesmo, para ter cem por cento de probabilidade de sucesso. Afinal, ninguém quer repetir o caso da Dona Iolanda Fazanos da Silva. Ela nasceu em 10/02 e tentou o suicídio em 10/05, pulando do 15º andar de um prédio. É claro que não morreu, ao menos de imediato. Sua morte foi um verdadeiro parto, um “parto às avessas”, melhor dizendo. Após o pulo foram nove longos e penosos meses numa cama de hospital até “apagar a luz”.

Será que a origem do mal está naquilo que o nome “Fazanos” evoca? Fazanos lembra “faz anos”, e todo Fazanos morre no dia em que faz anos. Não, não, isso seria forçar um pouco a barra, afinal, quem nunca ouviu falar da família Boa Morte? E sei de casos de mortes terríveis nessa família, que nem me animo de contar os detalhes. Conheço demais também a família Catabriga, e posso garantir que, salvo raras exceções, que existem em todas as famílias, são gente de boa paz. O mesmo se aplica aos Costacurta, família que possui muitos atletas de costas bem largas. Não posso deixar de citar também o caso do José Carlos Peregrino, que nunca saiu de sua cidade e poucas vezes foi além dos limites de seu bairro. E garanto que não foi por falta de dinheiro ou de oportunidade, pois seu pai era dono de uma agência de turismo! Sem dúvida alguma, foi somente devido à sua natureza nada peregrina!

Tem sido prática comum na família comemorar o aniversário não no dia do nascimento. O pessoal ficou sem clima para comemorar no dia desde o triste episódio do Carlinhos, que sofreu uma convulsão repentina e morreu bem na hora do “Com quem será, com quem será...” que vem depois do “Parabéns pra você” no dia em que completava seus 10 aninhos. Alguns comemoram no dia seguinte, até porque podem comemorar o fato de que viverão mais um ano, ao menos, coisa que membro de nenhuma outra família pode se dar ao luxo de fazer. Mas é claro que tem também aqueles mais festivos que, na dúvida de se estarão vivos no dia seguinte ao aniversário, preferem comemorar na véspera. É claro que a festa tem sempre um clima pesado, com cara de festa de despedida, como aquelas que fazem as pessoas que moram no Brasil e vão se mudar para a Austrália ou para o Japão sem saber se voltam ou quando voltam para o Brasil, mas não deixa de ser uma festa!

Eu já contei o caso dos trigêmeos? Não? Então deixa eu contar. É um caso curioso; pra lá de trágico, mas muito curioso. Num belo dia nasceram os trigêmeos Rodrigo, Rogério e Rodolfo, e num triste dia morreram os três. Tudo bem que os três morressem no mesmo dia 14 de julho, mas precisava ser no mesmo ano? Morreram em acidente de trânsito. Seria mais fácil a Dona Rosa aceitar a tragédia se os três tivessem morrido no mesmo acidente, mas o mais revoltante é que morreram em acidentes distintos, um em Minas, um no Espírito Santo e outro em Buenos Aires.

Porém, a coisa tem o seu lado positivo; afinal, se não for aniversário do cidadão é certo que o pára-quedas vai abrir, que não acontecerá uma avalanche, que não há risco de se perder na caverna ou na floresta, que não vai aparecer nenhum tubarão, cobra, leão, de modo os Fazanos têm se destacado no ramo dos esportes e profissões radicais. São ótimos alpinistas, pára-quedistas, espeleólogos, mergulhadores, bombeiros, policiais e outras coisas mais 364 dias por ano!

Mas como não poderia deixar de ser, a questão “ser ou não ser um Fazanos” é um tema dos mais polêmicos. Que a morte é certa, disso ninguém duvida, e além de certa, imprevisível. E, a rigor, é imprevisível até mesmo para um Fazanos, embora a imprevisibilidade deste seja de uma ordem diversa das dos demais mortais. Só para ilustrar, alguém que vive 90 anos tem 32.850 dias onde a morte pode visitá-lo. Já para um Fazanos o número de dias em que essa visita pode se dar é de apenas 90. A questão que se coloca então é a seguinte: um Fazanos vive melhor que os outros homens, por poder correr riscos durante 32.760 dias da vida ou vive esses 32.760 dias pensando nos 90 restantes? Sim, porque se eu não sei quando a morte virá ao meu encontro é natural que eu facilmente não a tenha como um foco constante de preocupação num largo período de minha vida, onde gozo de plena saúde e faço da prudência e da moderação valores constantes em minha conduta. Mas nada disso vale para um Fazanos. Sua vida é uma eterna contagem regressiva que a cada ano se renova.

Ora, mas tudo isso não passa de mera especulação subjetiva. O fato é que ninguém pode dar uma palavra final sobre essa polêmica, pois, no fundo, não há conclusão consensual alguma a que se possa chegar. O fato é que existem os Fazanos que amam sua condição e dela tiram o maior proveito possível, e há aqueles que fazem da morte “semi-previsível” sua única fonte de preocupação na vida. Mas assim são, no fim das contas, as questões que dizem respeito ao bicho-homem!

E se um dia, pode estar pensando alguma de vocês, eu me apaixono por um Fazanos, caso-me com ele e adoto seu sobrenome como de praxe se faz? Passo a sofrer (ou a usufruir) da mesma sina (ou do mesmo privilégio)? Não, é a resposta. Apenas seus filhos ou filhas serão vítimas de tal sina, ou alvo de tal privilégio, como queiram. Portanto, fica aqui, a título de desfecho, meu conselho às mulheres em geral: se você é do tipo que não gosta de lidar com acontecimentos imprevistos então não perca tempo: corra até à lista telefônica de sua cidade, procure lá a família Fazanos e empenhe-se em conhecer um disponível. E o quanto antes, pois me disseram que a família não é muito numerosa, e nascem mais mulheres do que homens! Boa sorte, e......... na medida do possível, ........... felizes festas de aniversário em família!

Antonio Rocha Neto