TEMOS QUE COBRAR INGRESSO NOS AEROPORTOS

COTIDIANO – (de Goiânia – GO) Muito antigamente, na época em que Santos Dumont fez uns pedaços de madeira, lona e um motor, dirigido por ele mesmo, voar por alguns minutos, a humanidade sabia que o meio de transporte chamado avião seria a revolução de uma época, mas ninguém previu que aquele meio de transporte seria tão simples e comum quanto andar de mula.

O tempo passou e o avião foi voando mais alto e crescendo a ponto de abrigar mais de cem pessoas, voando cada vez mais longe e rápido, mas o povo, aquele que não podia pagar ou sequer sonhar em voar, este era impedido de entrar até nos campos de aviação, para não demonstrar nenhum tipo de simplicidade; aviação civil nas décadas de 50, 60, 70 até meados da década de 80 do século passado, era coisa para ricos e nobres.

Com a tal de globalização, tudo mudou e como não se poderia esperar outra coisa, a aviação de passageiros ganhou novos e necessitados usuários. Viajar de um ponto a outro do Brasil de carro se tornou uma aventura típica de Indiana Jones e a saída mais segura era apostar no crescimento das companhias aéreas. O crescimento econômico ajudou esta bomba de êxtase que fez com que milhares de pessoas voassem daqui para ali e dali para cá como num piscar de olhos. As passagens se tornaram baratas se comparadas aos ônibus, podendo ser pagas em 6 vezes sem juros ou financiadas em até 24 prestações; navios e trens de passageiros quase desapareceram e o resultado é este que vemos, seja nos aeroportos, seja no noticiário; todos os vôos abarrotados e os aeroportos intransitáveis.

Esta semana eu fiz uma viagem internacional e nem bem cheguei de volta ao Brasil, já estou aqui em outra cidade (Goiânia). Em uma semana, estive em 06 aeroportos diferentes e com exceção dos aeroportos internacionais, o que eu percebi nos aeroportos de Confins, Guarulhos, Congonhas e Santa Genoveva (Goiânia), era uma multidão se espremendo umas as outras, com bagagens intermináveis como se estivessem em mudança de cidade. Num primeiro momento eu cheguei a pensar que se tratasse de algum “feriadão” ou alguma promoção de preços, mas não era nada disso; após algumas perguntas estratégicas, descobri que se tratava da explosão consumista que leva pessoas aos aeroportos para viagens banais como as para visita familiar.

As malas intermináveis eram provavelmente os presentes que seriam ofertados aos entes distantes e a multidão, pasmem, eram amigos, parentes, agregados, entusiastas, inimigos, sei lá; todos os que não têm nada a fazer, e vão, em caravanas aos aeroportos para se despedir ou se reencontrar com aqueles que viajam. Eu não tenho nada contra a qualquer tipo de pessoa que freqüente qualquer lugar público, mas em uma das filas que tive o dissabor de enfrentar, seja para o check in ou despacho de bagagens, havia pelo menos 30% de acompanhantes fazendo tumulto, orando, rindo, falando alto e o pior, atrapalhando os que estão ali pela funcionalidade do local.

No primeiro embarque, ainda em Belo Horizonte, notei uma senhora simpática que ia para Miami no mesmo vôo da TAM que eu estava e com ela, apenas para ver o seu embarque, duas filhas, dois genros, seis netos e duas babás; 12 pessoas para verem a simpática anciã embarcando. Para sorte de todos; aquele vôo saiu de Minas Gerais ainda na madrugada e no Tancredo Neves não havia nem os zeladores, mas se fosse num horário de pico, seriam 12 pessoas a mais para tumultuar os já tumultuados aeroportos brasileiros.

Lucram com isso as lanchonetes e os estacionamentos; pedem com isso aqueles que estão viajando; temos que pagar tarifas caríssimas de embarque e temos que fazer uso de sanitários imundos, alguns, piores do que os das rodoviárias (em Belo Horizonte já está assim) e os outros serviços ficam danificados por conta de quem está ali apenas para observar, como se continuasse sendo exótico ver um Airbus ou um Boeing em solo, fazendo um ruído ensurdecedor para decolar ou pousar.

Quando eu saí em Guarulhos para conectar com outra rota, na abertura da porta de desembarque que dá acesso ao aeroporto, havia tanta gente esperando outras que quase tive dificuldade em sair. Aquela visão dantesca, de pessoas com plaquinhas, outras com hot dogs e coca-cola nas mãos, aguardando o tão sonhado e glamoroso momento de reverem aqueles que amam, para dar-lhes um abraço forte e os conduzirem até suas casas, deixava a saída de Guarulhos como uma praça de feira livre.

Pelo visto, em pouco tempo, a INFRAERO terá que fazer salas especiais para este tipo de usuário ou quem sabe, cobrar uma importância como um quilo de alimento para os que vão aos aeroportos apenas para fazer turismo. Pode parecer ridículo, mas necessitamos já, de uma medida enérgica para conter estas multidões porque parte do caos aéreo, eu já notei que podemos atribuir a eles.

Carlos Henrique Mascarenhas Pires

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