Comentário

Comentário

Lendo Maria Olímpia outro dia, ela fala na crônica Xis, sobre a reação de um leitor a um comentário. Ponto. Daí, nos comentários sobre a crônica dela, foi unânime a questão de que cada um interpreta a seu modo. Ponto. Tudo isso me parece correto.

Afinal, garoando no molhadíssimo molhado que já foi dito, inclusive sobre os que se molham e os que adoram chuva, tem me vindo já há algum tempo a questão do comentário no Recanto. Ponto. Isso porque, há pouco mais de um ano recebo de um amigo, semanalmente, uns textos para analisar. Desde janeiro de 2007, até a presente data. Devo ter uma pasta com mais de 100 textos, porque o cara escreve, escreve muito, muito bem e muito difícil. Coloquei a linha do tempo aqui por um motivo simples: (dois pontos) até ingressar na Irmandade do Recanto, nesses moldes literatos nunca tinha recebido texto de ninguém, exceto as eternas correntes da intelnet.

Lia, pois, os textos do meu amigo, achava bacana, mas não me estendia muito, até porque ele dava (e continua dando) a impressão que não está nem aí para o que eu acho ou deixo de achar. Mas há algum tempo combinamos, (desde que ele tenha entendido), de publicar os textos, porque na minha opinião são bons e dignos de ganharem uma versão palpável, e foi mesmo quando falei pra ele que minha experiência no Recanto me levaria de fato a comentar texto por texto, não para entrar na edição, mas por exercício.

Agora surge o ardil da questão: é um grande exercício você comentar de bate pronto. No Recanto isso envolve outros itens, mas quanto ao exercício em si, pela dinâmica da coisa, por ser web, a sua atitude de comentar será outra. Ponto. No Recanto, o troço parece que tá vivo, quer dizer, você não lê seja lá quem for, abre o box do comentário e vai, por exemplo, até a padaria tomar um café para daí então escrever sobre. Eu, pelo menos, nunca fiz isso. No Recanto comenta-se, não só, mas também, por fazer parte do jogo. Parêntese. (Nunca tinha publicado nada na web até julho de 2007, quando descobri um lugar que diziam pagar pelos escritos, que nunca ninguém comentou ou pagou, e tinha de ter 600 palavras. 600 palavras para mim nunca davam certo, sempre era pouco, até que num nem tão belo dia me ocorreu o texto “600 palavras”, um parto matutino efervescente. Mandei lá pro tal site, embora não mandar desse no mesmo, mandei para um editor, que muito polidamente me disse que aquilo era prosa poética e que a conversa com ele era outra. Na hora entrei no gugle, digitei “prosa poética”, porque eu tava pelas tampas e falei é já que eu vou enfiar esse texto nalgum lugar. O gugle me aparece com Recanto das Letras/Prosa Poética. Me cadastrei, enfiei o bagulho lá e fui. Fim do Parêntese).

Dois dias depois de uma baita tempestade vou pra web, entro no Recanto e me surpreendo com o lance do comentário. E quem me recepcionou foi Maria Olímpia. Fiquei pasmo. Pensei, puxa, que legal, porque o comentário dela foi incentivador, e naquele instante eu não sabia como funcionava a parada de retribuir, tanto é que escrevi lá mesmo, obrigado, porque o tempo tava apertado e aquela lan era o porão do inferno - no mesmo lugar eles abrigam fliperama, sinuca – acho que se deixarem o dono enfia lá um picadeiro e uns pôneis. Sei que, saí voando, sem entender a mecânica da coisa.

A mecânica do comentário no Recanto, enquanto jogo de raciocínio rápido, acaba virando um cacoete, a meu ver saudável, porque para mim grande parte do que leio me incentiva a comentar, mesmo que vez por outra eu, pelo menos (e quando percebo já cliquei no enviar), me vejo dizendo alhos embora querendo dizer bugalhos. Aí já foi, parece jogo de xadrez com timing, mas acho mesmo que a idéia do comentário fortalece ambas as partes, e a simbiose vai acontecendo, seja qual for a intenção e ou interpretação do comentarista, dentro, óbvio, do bom senso. Mas que deixa o raciocínio afiado, deixa. No mais, (vírgula) ler e escrever, além de serem primos-irmãos, te deixam fora do imenso time dos “analfabetos práticos”, que apesar de saberem um e outro, não praticam, e raciocínio é que nem músculo, tem que exercitar.

Bernard Gontier
Enviado por Bernard Gontier em 14/04/2008
Reeditado em 02/11/2013
Código do texto: T945699
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