Uma miss surda...
e bela
Me desculpem, mas sou do tempo em que, para se tornarem belas, as misses não precisavam de silicone nem da plástica. Ganhavam os títulos com o corpinho que Deus lhe houvera dado, caprichando o Divino na escultura.
Hoje, elas confessam abertamente que colocaram prótese de silicone no seios, alterando-lhes a consistência, o tamanho e a... ternura. A nova miss Brasil, a gaúcha Natália Anderle, não fugiu à regra: declarou-se siliconada.
Mas deixemos isso pra lá.
Como um cearense fiel à sua Taba, torci, ostensivamente, pela miss Ceará, a jovem Vanessa Vidal.
E não se diga que esse meu entusiasmo por Vanessa deveu-se ao fato de ela ser uma candidata surda. Não. Desde o primeiro momento, achei-a linda!
Tanto que o povo brasileiro, pelo voto cibernético, a ajudou a alcançar o título de vice-miss Brasil; foi a segunda colocada no concurso.
*** *** ***
Aos surdos-mudos o escritor Rubem Alves dedicou uma página comovente no seu último livro de crônicas - Ostra feliz não faz pérola - que acaba de chegar nas livrarias; pelos menos nas livrarias de Salvador.
Antes, quero dizer, que sou amigo dos surdos-mudos que empacotam minhas compras no supermercado que frequento. São mocinhas e rapazes alegres e atenciosos.
Até aprendi um pouco do seu alfabeto. Uso-o para agradecer-lhes o favor que me fazem; e eles me brindam com sorrisos largos e eloquentes.
Silenciosos sorrisos de quem a Natureza, numa de suas trapaças, roubou o direito de ouvir e de falar normalmente. Oh! Por quê?
Retorno ao texto do Rubem Alves.
Para deixar com o meu paciente leitor esta sua legítima e oportuna sugestão: "Não seria legal se as crianças e adolescentes , por puro prazer, aprendessem o alfabeto dos surdos-mudos? Não se aprende inglês e francês? Deveriam aprender, nas escolas, como parte de um projeto de inclusão".
*** *** ***
Disse em um dos meus escritos, faz algum tempo, que a primeira crônica que escrevi na vida foi para saudar uma misse. Vou repetir o que, abrindo aquela crônica, escrevi:
"No ardor sem limites da minha juventude, cantei, em leve prosa, a beleza da cearense Emília Corrêa Lima, eleita, em 1955, miss Brasil."
Naquela época, o concurso de miss Brasil vivia seus momentos de intenso fulgor e glória. Basta lembrar, que Emília recebeu a coroa das mãos da mais bela miss Brasil em todos os tempos, a baiana Marta Rocha, ganhadora do título em 1954.
Deus me permitiu guardar, com nitidez, aqueles dois eventos: as eleições de Marta e de Emilia. Tenho-os como momentos alegres - entre muitos - na minha caminhada por este mundo velho, e que já se estende por mais de meio século.
Quando a indignidade, o descaramento, a insensatez, a violência parecem (parecem?) triunfar, ver mulheres bonitas, semi-desnudas, desfilando nas passarelas, não deixa de ser um alento, e, mais do que isso, um aviso de que Deus existe.
Uma miss surda... e linda. Diante de tanta asneira que por aí se anda dizendo - no rádio, na TV, nos palanques, nos Palácios e nos Parlamentos - de repente a surdez pode ser uma bênção...
Há momentos em que - me perdoem a franqueza - gostaria de ter nascido como a Vanessa, ou seja, surdo...
e bela
Me desculpem, mas sou do tempo em que, para se tornarem belas, as misses não precisavam de silicone nem da plástica. Ganhavam os títulos com o corpinho que Deus lhe houvera dado, caprichando o Divino na escultura.
Hoje, elas confessam abertamente que colocaram prótese de silicone no seios, alterando-lhes a consistência, o tamanho e a... ternura. A nova miss Brasil, a gaúcha Natália Anderle, não fugiu à regra: declarou-se siliconada.
Mas deixemos isso pra lá.
Como um cearense fiel à sua Taba, torci, ostensivamente, pela miss Ceará, a jovem Vanessa Vidal.
E não se diga que esse meu entusiasmo por Vanessa deveu-se ao fato de ela ser uma candidata surda. Não. Desde o primeiro momento, achei-a linda!
Tanto que o povo brasileiro, pelo voto cibernético, a ajudou a alcançar o título de vice-miss Brasil; foi a segunda colocada no concurso.
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Aos surdos-mudos o escritor Rubem Alves dedicou uma página comovente no seu último livro de crônicas - Ostra feliz não faz pérola - que acaba de chegar nas livrarias; pelos menos nas livrarias de Salvador.
Antes, quero dizer, que sou amigo dos surdos-mudos que empacotam minhas compras no supermercado que frequento. São mocinhas e rapazes alegres e atenciosos.
Até aprendi um pouco do seu alfabeto. Uso-o para agradecer-lhes o favor que me fazem; e eles me brindam com sorrisos largos e eloquentes.
Silenciosos sorrisos de quem a Natureza, numa de suas trapaças, roubou o direito de ouvir e de falar normalmente. Oh! Por quê?
Retorno ao texto do Rubem Alves.
Para deixar com o meu paciente leitor esta sua legítima e oportuna sugestão: "Não seria legal se as crianças e adolescentes , por puro prazer, aprendessem o alfabeto dos surdos-mudos? Não se aprende inglês e francês? Deveriam aprender, nas escolas, como parte de um projeto de inclusão".
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Disse em um dos meus escritos, faz algum tempo, que a primeira crônica que escrevi na vida foi para saudar uma misse. Vou repetir o que, abrindo aquela crônica, escrevi:
"No ardor sem limites da minha juventude, cantei, em leve prosa, a beleza da cearense Emília Corrêa Lima, eleita, em 1955, miss Brasil."
Naquela época, o concurso de miss Brasil vivia seus momentos de intenso fulgor e glória. Basta lembrar, que Emília recebeu a coroa das mãos da mais bela miss Brasil em todos os tempos, a baiana Marta Rocha, ganhadora do título em 1954.
Deus me permitiu guardar, com nitidez, aqueles dois eventos: as eleições de Marta e de Emilia. Tenho-os como momentos alegres - entre muitos - na minha caminhada por este mundo velho, e que já se estende por mais de meio século.
Quando a indignidade, o descaramento, a insensatez, a violência parecem (parecem?) triunfar, ver mulheres bonitas, semi-desnudas, desfilando nas passarelas, não deixa de ser um alento, e, mais do que isso, um aviso de que Deus existe.
Uma miss surda... e linda. Diante de tanta asneira que por aí se anda dizendo - no rádio, na TV, nos palanques, nos Palácios e nos Parlamentos - de repente a surdez pode ser uma bênção...
Há momentos em que - me perdoem a franqueza - gostaria de ter nascido como a Vanessa, ou seja, surdo...