Isabella
Há pouco mais de um ano venho escrevendo as coisas que sinto, que penso, que imagino, às vezes chorando, outras rindo, outras tantas encantado com a natureza, com o amor ou com o humor.
Mas, nessa crônica, eu peço licença aos generosos amigos e amigas que lêem e, vez ou outra comentam porque sinto que estou há dezessete dias entupido.
Por mais que eu tente disfarçar, minha alma está machucada. Os pensamentos, as imagens, estão o tempo todo presentes na minha vida.
Por mais que eu tente disfarçar, minha alma está machucada. Os pensamentos, as imagens, estão o tempo todo presentes na minha vida.
Talvez seja porque eu e ela estejamos ambos grávidos e nesse período os hormônios alteram por demais nossas emoções. A minha nora Vanessa está grávida no seu ventre, de meu primeiro neto que nascerá em agosto e por conta disso eu também estou grávido de amor nesse meu coração de peito apaixonado.
Estou avisando, pois abaixo vou escrever o que sinto, vejo e imagino do trágico fim da criança Isabella e que todos devem estar como eu, cheios de tanto sensacionalismo e a falta de resultados.
O que eu vi:
Vi duas cartas com texto, ritmo de linguagem, tempos de expressão, tema e sentimentos exatamente iguais, certamente feitas pela mesma pessoa.
Vi os olhos do pai e da madrasta, fixos, olhares mortos, frios e ruins dentro de um carro saindo das prisões.
Vi um casal se odiando, saindo correndo para se esconderem cada um para um lado, tão logo saíram da viatura.
Vi um avô, uma tia e também uma mãe, com gestos comedidos, com rosto fresco e gestos pra lá de ensaiados. Falavam pausadamente, frios, sem dor.
Vi uma janela com um rombo na tela de proteção, mas não vi o pedaço da rede cortada e, sequer, o instrumento que a cortou.
Vi dúzias de policiais, peritos, sirenes, viaturas, repórteres, mas em nenhum momento eu vi amor.
O que eu sinto:
Sinto uma dor pela menina que não pôde se defender. Ela já causou comoção em milhões de brasileiros, mas não consegui ver comovidos a professora, os coleguinhas de escola, as avós, os bisavôs, as empregadas domésticas dos familiares dessa menina.
Porque a mídia não mostra as outras pessoas que
como eu choram pela impotência de não poder fazer nada pelas crianças que morrem diariamente
por esse mundo de fome, frio, doenças banais, agressões, violências, etc.
como eu choram pela impotência de não poder fazer nada pelas crianças que morrem diariamente
por esse mundo de fome, frio, doenças banais, agressões, violências, etc.
Eu não fui o melhor pai do mundo, errei muito, mas uma vez, meu filho, Fernando, teve uma crise de madrugada, e a minha primeira reação e também da mãe dele, foi pegá-lo no colo e sair correndo para um hospital, pronto-socorro, sem olhar se chovia, se estávamos seminus, se era frio ou não.
O que queríamos era nosso filho vivo.
O que queríamos era nosso filho vivo.
Como um pai apaixonado, ou uma madrasta zelosa, não abraçaram em seus colos a menina e não foram eles próprios em seu carro, como loucos, atrás de um pronto socorro?
Como conseguiram ficar ali esperando o resgate?
Como conseguiram ficar ali esperando o resgate?
Qual é o maior resgate nessa vida que não seja o amor?
Eu já vi pai e mãe sugarem nariz de crianças à morte para que respirassem.
Já os vi cuspirem sem nojo, os obstáculos que estava matando seus filhos.
Já os vi cuspirem sem nojo, os obstáculos que estava matando seus filhos.
Eu já soube de mulheres que socorreram filhos dos outros, por puro amor à vida, sem se preocupar se estavam semi-nuas ou maquiadas.
O que tenho visto é que todas as articulações, procedem exatamente de um pai, cuja renda deve ser alta e lícita pois desfilam carrões importados na sua garagem, além de ter municiado apartamento para os filhos num mesmo prédio.
Digo isso, porque um pai zeloso, que já tenha deixado uma jovem mãe e tenha constituído outra família com mais dois filhos com outra mulher, com menos de 30 anos de idade, não teria condições de comprar a sua custa um apto.
Sequer a moça, tia da menina, quero crer que não teria condições também de adquirir outro apto.
Isso denota, que os filhos desse digníssimo advogado, avô da pequena Isabella, bem como todos as pessoas que eu vi dando entrevista pela TV, são orquestrados, ensinados em falas e poses por esse cavalheiro.
O que me deixa curioso é imaginar que poder ele tem para manipular toda essa gente?
Manipular um pai, uma tia-madrinha, uma madrasta em extremos momentos de estresse e dor?
Seria ele um maestro do mal?
Poderíamos simplesmente aceitar que um de seus clientes não tenha sido bem cuidado e por vingança tenha querido feri-lo, se escondendo no apto do filho e matando e jogando a menina pela janela. O bandido desumano e covarde, sairia tranquilamente pela frente e todos nós teríamos já esquecido de mais um caso de criança covardemente assassinada.
Poderíamos aceitar que a madrasta, nervosa pela briga das crianças, por um simples Danone, no banco de trás, quis, num momento de raiva, chacoalhar a menina como recomendam os especialistas e, sem querer, exagerou na forma e acabou asfixiando-a.
Poderíamos ouvir tudo, ver tudo isso, mas não podemos jamais aceitar toda essa orquestração.
Não importa mais, como, onde, porque a criança morreu, mas importa saber que todos, TODOS os envolvidos estão indelevelmente marcados pelo resto das suas vidas, por este teatro monstruoso que estão representando.
Eu espero em Deus que alguém saia desse circulo imaginário, como em "Anjo exterminador" por Buñuel e, fale a polícia e à justiça, o quanto ama a vida e o que sabe e nos liberte dessa desconfiança e dessa dor...
...e que nós possamos orar e pedir à Deus que ela descanse em paz.
Revisão por gentileza de: laucaki@hotmail.com
Revisão por gentileza de: laucaki@hotmail.com