'Vou lhe deixar a medida do Bonfim'

Não meu valeu. Não me valeu o quê? Não me valeu a persistência dia após dia? A espera de um raio de sol encantado que iluminasse nossas vidas? A união de dois sentimentos instáveis tentando uma dita união estável?

Os espaços se confundem, os móveis na velha casa, os mesmos na nova morada. Após um longo período pós divórcio (4 anos?), a costumeira solidão se depara com uma nova possibilidade. Fatos se sucedem, desencadeando decisões apressadas. Um novo companheiro estabelecido. Desejo de que seja boníssimo enquanto dure. Depois da primeira separação, cria-se a couraça da realidade, pode ser que sim, pode ser que não...

Términos e voltas, "numa sucessão de sucessos e insucessos"; tentar, resistir, esperar e finalmente, sobreviver a mais uma separação de corpos, de casa, de horizontes. Terminar o que já estava disforme, acabado. E começar a lida de novo: revirar a terra, arrancar as pragas, prepará-la para a necessária germinação. Acolher a chuva, o sol, os ventos. Ser escavucada sem dó nem piedade, matar a semente para fazer reviver.

As separações são deveras tristes. Reencontrei um amigo dias idos e a sombra da perversa pairava sobre ele. Estava na Paraíba, terra natal, revigorando as raízes. De passagem pela cidade, pegara, a conselho de amigos(as), suas coisas, pra que o ex companheiro não o relembrasse nos objetos visíveis. Como se as lembranças precisassem de tato, visão e outros sentidos. Tristes os finais, sempre tristes.

Por isso é bom ficar mais velha, o estrago não mais dilacera o peito como nas primeiras paixões. A dor é miúda, mais pelo acontecimento que pelo indivíduo. O medo é menor, o andar é firme, sôfrego, mas sem cambaleamentos. O semblante permanece, talvez se torne um pouco mais frio, encerado.

Os pés passeiam solitários pela casa; sem sons de TV, ouço o chuvisqueiro, um avião sobrevoa, a revista distrai, um livro aguarda para ser terminado. Estes fins são bons!

Lígia Martins
Enviado por Lígia Martins em 14/04/2008
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