Da janela lateral do quarto de dormir

Eu tenho visto, lido, ouvido muito sobre o *Caso Isabella*.

Se tem alguém que ainda não conhece a Isabella, ela é aquela que fora arremessada do sexto andar, supostamente por seu pai.

A imprensa cai matando, falam isso e aquilo, suspeitos, depoimentos, provas, promotores, acusados, condenados.

Eu lembro do Brown, que disse que a televisão te destrói em trinta segundos. Pois é amigo.

Mas, inerente a minha vontade, e parecido com a Fernanda, eu penso. Penso muito, reflito, junto informações. Como ela diz, sofremos de algum tipo de insuficiência seletiva, uma vez que nossos cérebros estão sempre transbordando inutilidades. Cá esta mais uma.

Penso no caso Isabella, e reflito. Andando pela rua, nos ônibus; penso.

Penso naquelas Isabellas, que diariamente são jogadas do sexto andar, ao viverem com pais ignorantes e mães ausentes.

Penso nas crianças de sete anos que são arremessadas do sexto andar, quando não têm escolas, professores, cadeiras, ensino.

Lembro um pouco de ter visto uma criança sendo arremessada do sexto andar e forçada a vender balas de farol em farol.

Enquanto escrevo, sou abordado por um menino, certamente arremessado do sexto andar, se desculpando por atrapalhar minha viagem (duplo sentido), e me pedindo uma moeda, qualquer coisa tio, tenho três irmãos menores. Penso; certamente serão jogados.

Vejo um menino descalço, hoje chove, procurando um lugar para dormir, a rua. Tens coragem de dizer que não fora jogado do sexto andar?

Falando em meninos, temos aqueles que certamente podemos chamar de Isabella, que são arremessados do sexto andar ao terem seus rabos comidos por padres pederastas, hipócritas. Não?

Encontramos todos os dias, a todo o momento, Isabellas. Ela nos faz chorar, das outras, temos, quando temos, dó.

Isabella. Isa, iso, uniforme. Bella, é simplesmente bela. Isabella, beleza uniforme?

Beleza. Beleza e ver todas as Isabellas felizes. Ver todas elas, da janela lateral...

Enquanto uma ainda for arremessada do sexto andar, nenhuma delas será bela.

Mas é complicado, eu disse, eu penso.

Se não posso contar com essa beleza, me resta a Isa. Iso, uniforme.

Então, arremessar Isabelas dos sextos andares da vida, é comportamento uniforme, padrão.

Padrão? Para mim não.

Não.

DanteOlivares
Enviado por DanteOlivares em 14/04/2008
Código do texto: T944975