Zunzum e nem tivemos bossa-nova
Carlos Lyra e seus Bossa-Nova há muito já se apresentavam no Grupo Israelita no Rio de Janeiro. Tempos mais tarde o Álvaro Castro haveria de cantar e tocar no Beco das Garrafas. Ele, Roberto Graña, Ricardo Norton e outros já cantavam no Clubinho. Posso estar enganado, mas pesado eram os Beatles. Nunca ouvi dizer que tocassem Os Cariocas. No Extremo Sul do Brasil a impressão é de que tudo chegaria tarde num prolongamento de admirável bonomia nostálgica. Essa lembrança guardava um ar de atenta elegância ao consumo da alegria bem pausada da nova batidinha. Pelo menos havia o “Clubinho” onde se apresentavam os talentos. Sem jazz. O município era o jazz. Com ondas de quietismo assobiado nas palmeiras a cada vibração da voz. O bolero aos poucos se desgastava e a poesia triste ganhava espaço nas músicas pastorais da fronteira. Outros jovens com acesso a cultura de Porto Alegre, Pelotas ou Rio Grande retornavam com “bagagem cultural” dos ritmos acelerados como atração de audiência. Modificavam os elementos fixos do folclore com alguma dificuldade. Espécie de doutorado natural estudantil grátis ao gosto do lirismo das padarias amanhecendo com olhos de ressaca.
A juventude e o caráter coloquial das novas composições passaram com grande intensidade pela Bossa-Nova no Rio de Janeiro. Aqui o caráter das novas composições atrás do estrelismo era atraído graças as grandes importações. Predominava o la-lá-lá relaxado e as percussões sinfônicas estourando colorido. O que viria ser ruído mais tarde, zunzunzum com letras de horror em meio à “paz e amor” que se misturavam sem receio da nova doença íntima que surgiria sobre a legenda da quantidade com qualidade humana tempos depois.
Havia em tudo o medo das idéias livres, portanto policiadas com rigor. Existia o Pasquim lido as escondidas. A genialidade dava como bananeira em todos os lugares num simples toque dessa estrutura editorial popular. Brotavam heróis das páginas da luta. Da luta sempre viva pela humanidade do heroísmo! “Humanificação” acima de duas doses.
O leite de saquinho também estava surgindo. O leiteiro ria da novidade entregando leite novinho ao mundo mirim. A Rua Sete de Setembro é Avenida Atlântica do começo ao fim, digam o que quiserem. E isso me parece feliz. Se fosse Edil elevaria essa Rua a condição de Avenida. Aparteado responderia: ora, se o aquecimento solar redesenha o subtrópico! A vida promove prestígio para que possamos nos acostumar ao “novo sol” além das doenças tropicais. Por sorte o frio chega e o mosquito vai embora. Há tangos, poesias, tristes canções folclóricas, vinhos e amores. Além da bossa ausente que é musicalmente amor, sorriso e flor. Por dentro vou de Noel Rosa e volto de MPB4. Claro que nunca houve movimento de bossa-nova em Santa Vitória do Palmar (Gosto do coletivo no plural: Santa Vitória dos Palmares) nem Semana da Arte Moderna em todos os lugares. Há certa obrigação de nascer aqui um novo tom, sobre a batida diferente do novo sol de ozônio. Afinal já era para estar frio.