STRIP-TEASE
Nem só de cultura útil vive uma mulher, a gente só normalmente não confessa. É que nem música brega, todo mundo tem uma que marcou uma paixãozinha do tempo em que batom boka-loka e blusa verde-limão eram a última moda, mas ainda assim a gente jura... Menudo? Biafra? Eu? Desses pecados não vou pr’o inferno...
Tá... concordo... Marquinhos Moura é inconfessável mesmo...
Aí você está lá, bundando na internet, já se chateou de chat-ear, já desistiu da TV, já leu o final do folhetim das oito (aquele que você jura que não assiste), e eis a chamada, em letrinhas vermelhas, “Gostosinho de Tal muda visual prá próxima novela das tantas”, não tem ninguém olhando, você, claro, clica... adivinha? Não tem foto.
“Bem feito! Essa foi merecida, vai ler notícia que preste!” – resmunga consigo mesma, e lá vai você, notícia séria... o título: “Menina encontrada morta em...”, a primeira linha da matéria: “Menina é encontrada gravemente ferida em...”. Dia difícil.
Lembro dos tempos de jornal, lá no fim do mundo, diagramadora e past-up-ista, no tempo em que essas profissões ainda existiam, um belo dia, prá quem dá sopa: sobra. E lá vai você escrever a coluna social do agitadíssimo Arraial do Capim Mimoso e, pior, como se fosse a digníssima colunista que saía de férias... Dois engovs, três uísques, a máquina de escrever olhando prá você e você finalmente cria coragem prá abrir o envelope... na primeira foto já quase enfarta... imagina a nota: “Urutu-Cruzeiro teen, cruza de prefeitável com sabe-deus-o-quê, com ferro nos dentes, vestido modelo bolo-de-noiva e uma espinha que mais parece um vulcão no meio da cara comemora...”, mas resigna-se... “Funalinha de Tal Tal Tal E Tal lindíssima em seu ‘debut’...”
Dia seguinte, logo cedo, sabadão, ressacão, você trabalhando, lá vem o assistente da bruxa revisar seu texto, nessa hora você literalmente quer morrer; Dali a pouco volta ele, uma santa, mas obtusa pessoa: – “Tá errado.”, nessa hora você quer matar. – “Tá errado onde?” – “Tá faltando vírgula.” – “N’um tá!” – “Tá!” – “N’um tá!” – “Tá!” – “N’um tá!” – “Tá!” – “Então tá! Onde é que tá faltando a porra da vírgula?” – “Ah, sei lá! Salpica umas aí, tá muito ‘xoxinho’ sem vírgula.” Depois de uma semana você aprende, é só escrever o oposto do que vê, adjetivos – superlativos todos, e dá-lhe vírgula!
E assim, publicamente, dispo-me: tenho minha música brega güardada no baúzinho da memória, curto uma cultura inútil de vez em quando, e, ainda que não literalmente, literariamente, sim: já fui puta.
Mas saia de oncinha eu nunca tive! Eu juro!