A PRIMEIRA VEZ .....

 

   Por que será que temos essa curiosa fascinação pela primeira vez de tudo que já aconteceu nas nossas vidas ? O interessante é que invariavelmente só damos valor e nos lembramos dos fatos que mais nos interessam (é até natural) e que geralmente não são tão importantes, enquanto que deixamos de lado, aí sim, experiências (e por que não dizer ensinamentos) importantíssimas que deveriam ficar nas nossas lembranças pelo resto da vida.

   É mais comum se lembrar e até comentar sobre a primeira vez que se usou um soutien, do primeiro encontro, do primeiro beijo, da primeira transa, da primeira namorada, da primeira nota de cem, da primeira pizza, do primeiro sorvete de creme e outras tantas boas lembranças.

   Mas por que será que não comentamos sobre a primeira vez que fomos ao dentista, do primeiro exame de sangue, do primeiro resfriado, do primeiro porre, da primeira calça comprida, da primeira camisa listrada, do primeiro tombo, do primeiro fora da garota mais bonita da escola, da primeira troca de pneus em dia de chuva, do primeiro cheque devolvido, da primeira vez que fomos apresentados a futura sogra ou do primeiro mico ? Não são interessantes também ?

   Como qualquer outro ser humano deste planeta tenho incontáveis lembranças da primeira vez de algum fato ou de alguma coisa, a maioria delas muito boas e , graças a Deus, a minoria bem desagradável e que procuro riscar complemente das minhas recordações.

   Um dos fatos de que me recordo e que mais me emocionou, até por que justificou junto a família que eu estava certo foi quando, contra tudo e contra todos, permiti (e insistí) que meu filho, então com seis anos de idade, fosse pela primeira vez a padaria comprar pão.

  Sei que essa lembrança é surpreendente para muitos mas diante das circunstâncias, foi um episódio que marcou nossas vidas, a minha e a do meu filho.

   Para se chegar a padaria era preciso atravessar uma rua movimentada. Na minha esquina tinha um sinal de trânsito. Minha mulher, super preocupada (e super protetora) não queria que o menino fosse sozinho, mas eu naquele dia achei que era hora dele começar a sair da redoma de vidro que nós os pais, as vezes com certo exagero, criamos com a intensão de proteger nossos filhos.

   É evidente que tomei certas precauções e após recomendar como e o que deveria ser feito e olhando bem fundo nos olhos, disse que ele seria capaz de ir buscar o nosso pão daquela manhã e ainda trazer o troco. Naquele momento procurei transmitir ao meu filho confiança, firmeza e segurança.

   Pois o menino foi e voltou sem nenhum problema, trouxe o troco certo e ainda nos disse que olhou duas vezes para os lados para atravessar a rua e o mais importante, foi sem qualquer tipo de medo. Quer dizer, a águia estava aprendendo a voar.

   A partir desse episódio fomos soltando nosso filho aos poucos até que, mesmo com os tropeços naturais do nosso dia-a-dia, ele transformou-se no homem sério, responsável e chefe de família que é hoje em dia.

  Alguns até podem pensar que estou enganado mas sinceramente, não tenho nenhuma dúvida de que tudo começou naquela manhã onde a coragem e a confiança prevaleceram sobre o medo e a insegurança.

   Como exemplo próprio tenho vários, mas gostaria de citar a primeira vez que dirigi um carro. Foi um desastre, não no sentido literal da coisa mas sim, se considerarmos a enorme expectativa criada em torno do que se chama de conquista da independência ao volante.

   Eu estava ao lado de um paciente instrutor dirigindo por uma movimentada rua do Rio de Janeiro e num horário dos grandes congestionamentos. Tinha sugerido para praticar direção pela madrugada mas não fui atendido. Meu instrutor achou muita graça na sugestão.

   Exatamente quando estava subindo uma pequena ladeira, com ônibus , carros e taxis impacientes na minha traseira, deixei que o motor morresse. Estava muito nervoso e não sabia o que fazer e meu instrutor nem se mexia. Suando muito, tentei dar partida por duas os três vezes até que aos trancos, consegui movimentar o carro e sair daquela enorme confusão que tinha causado, estimulada por vários palavrões e buzinaços.

   Quando consegui parar o carro em frente a auto-escola percebi que minha camisa estava ensopada de suor e meu instrutor, calmamente me disse que eu tinha ido muito bem e que a próxima aula prática seria no dia seguinte.

   Com as pernas tremendo saí do carro , olhei para o instrutor e me lembro de ter perguntado se ele tinha certeza do que estava falando. Displicentemente ele respondeu-me que se não tivesse certeza, não teria falado.

   A primeira vez, realmente é inesquecível....

 

 

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PEQUENO DETALHE FINAL : hoje sou um excelente motorista, mas não tenho nenhuma dúvida que tudo começou naquele dia em que causei um enorme nó no trânsito. Talvez se eu tivesse tido aulas práticas de direção nas madrugadas, não estaria dirigindo da maneira que dirijo hoje em dia.




(.....imagem google.....)
WRAMOS
Enviado por WRAMOS em 13/04/2008
Reeditado em 13/01/2013
Código do texto: T944014
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