DIÁRIO DE BORDO # 2

DIÁRIO DE BORDO: DIA 2: 2300 ZULU TIME (Já descobriu como funciona?)

Segundo dia, depois da primeira noite (finalmente uma frase lógica?), depois de três meses de espera, enfim, casa nova-vida nova... e... é claro... menstruação!!! Devidamente proporcional à espera e perfeita para um dia de quase quarenta graus, malas pra carregar e uma batida-de-pernas básica em busca de um colchão bom, barato e com entrega imediata...

Melhor que isso? Só "ex" dando uma de legal, querendo ir junto e dizendo "ah... esse não, é muito duro... esse não, muito mole..."

NOTA: Obviamente, mudança no meio do ano, sem feriado prá acomodar, sem grana, sem auxílio profissional, alugando imóvel mobiliado e sem tudo pronto só pode significar uma coisa: o barco afundou, ou seja: divórcio.

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De volta ao Titanic em busca de suprimentos, posso dizer que trouxe praticamente TUDO o que me pertencia, incluindo insignificâncias como homus enlatado, luvas de usar quando neva (muito embora aqui não neve nunca), caneta do Mickey, ímã de geladeira... enfim, tudo mesmo, só esqueci as calcinhas... TODAS!

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Hoje encarei o banheiro... abri a porta, olhei prá ele, ele olhou prá mim... aquela musiquinha de fundo... me senti o John Wayne, prestes a sacar o meu clorox... foi traumático, ainda não estou pronta prá reviver a experiência escrevendo sobre ela.

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Mas eu amo a América! Tudo vem com manual, e, por via das dúvidas, em inglês, espanhol, francês, alemão e japonês, mas, ainda assim, admitindo a hipótese de que você seja brasileiro, coreano, romeno, holandês, russo, chinês, árabe, indiano, húngaro, etc., ou simplesmente não esteja com o menor saco prá ler manual, as conexões são todas coloridas, fiozinho vermelho no buraquinho vermelho, fiozinho verde no buraquinho verde, amarelo, branco, preto... e pra que se tenha uma idéia de quantos fios, tinha até buraquinho lilás! E bingo! O home-theater funciona!!! E tem até rádio AM/FM!!! O que é otimo, ainda mais considerando que TODOS os meus cd’s e dvd’s ainda estão em alguma caixa, em algum lugar... que eu não tenho a menor idéia sobre qual ou onde...

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Ouvi quando criança que a curiosidade é a mãe das invenções (também ouvi que matou o gato, mas essa acho meio mórbida, prefiro a primeira) e é também a mãe das descobertas... E não é que, 48 horas de exílio e contando, descobri que tem gente que não põe senha na sua internet sem fio!!! OOOOOOOOOOOOOOBAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAA!!!!!!!!!!!!!!!!!!! INTERNETTTEEEEEEEEEEEEEEEE!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!! (Alheia, lenta... mas ONLINE!!!!!!!!!!!!!)

Agora só faltam a TV, o telefone e a coragem pra abrir a máquina-de-lavar louças e descobrir o que tem lá dentro, mas esses universos vão ficar prá amanhã...

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Ah! O colchão, esse só vem na quarta-feira (teoricamente), pelo menos o sofá é grande. Na verdade, é um sofá-cama, mas isso eu só vou descobrir daqui uns dois meses, depois de umas dez caixas de Dorflex. Hoje retirei (e, por via das dúvidas, claro, substituí por novas) quarenta-e-três armadilhas para baratas, o quê, convenhamos, para um apartamento de um quarto, é digno do Guinness Book, e só pode significar uma entre duas coisas: ou meu (minha) senhorio tem paúra de barata, tal-e-qual eu mais noventa-e-nove por cento das mulheres também temos (o que é perfeitamente natural tamanha a nocividade, asquerosidade e natureza homicida de ditos seres), ou (ai meu deus!) barata aqui entra de batalhão, em formação e com artilharia pesada. Lá se foi meu sono.

Certa vez lí, sei lá eu onde, que, no advento de um ataque nuclear, elas (as baratas) seriam as únicas que sobreviveriam, agora me diz se não é prá ter medo? Forma de vida involuída o caramba! Provavelmente isso é o que os dinossauros desavisados pensavam da gente ou de que gosma seja da qual evoluímos, e olha só no que deu? Bom prá gente, já pr’os lagartões... Diferença básica, entretanto, eles precisaram de uma certa ajuda da natureza, nós, por outro lado, pelo jeito, somos realmente mais evoluídos, não vamos precisar de ajuda nenhuma. E faz todo sentido, afinal, como dizia meu pai, do alto de seus cento e sessenta e três centímetros de pura sabedoria: “depois que inventaram a ‘pórva’, tamanho deixou de ser documento”...

“Até o tamanho do documento?” – sempre cutucava minha mãe... mas isso é assunto prá outra crônica.

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Dalila Langoni
Enviado por Dalila Langoni em 12/04/2008
Reeditado em 14/04/2008
Código do texto: T942896