PERIPÉCIA NOS CÉUS DA AMAZÔNIA

Eram oito e meia da noite, numa sexta-feira. Havíamos terminado de jantar, num restaurante aconchegante próximo ao rio Maués-Açu, na cidade de Maués. Naquele mormaço de fim de semana. Sem pressa pra nada, sem outro programa em vista para aquela noite. De repente, um ruído se sobressai ao som do restaurante: O troar de um avião monomotor nos ares.

- Este está perdido – afirma o garçom.

Realmente, um avião voando baixo, acerando e desacelerando em sinal de desespero, só pode ser sinal de muito perigo. A pista de pouso não é iluminada, mas todos sabem o que fazer. Eu também. Pago a conta e vou correndo para o carro e de lá para a pista de pouso. Muitos e muitos carros fazem o mesmo. Chegando lá, colocamos todos os carros dos dois lados da pista, com os faróis acesos, com o alerta ligado, focalizando a pista em diagonal.

O avião pousa e o primeiro a sair é um senhor, com jaqueta da polícia civil do Pará, fazendo a pergunta óbvia:

- Onde estou?

Tratava-se de um avião, fretado pela Secretaria de Segurança do vizinho estado do Pará que fora fazer uma prisão num dos muitos garimpos do município de Itaituba. A operação teve algum atraso e quando decolaram o piloto não mais conseguiu visualizar o rio que lhe serviria de guia e se perdeu nos ares da Amazônia.

- Arriscamos decolar – completou o policial em seu relato. Ele não disse, mas todos sabiam que nenhum grupo pequeno de policiais faz uma prisão de uma pessoa querida no garimpo, mesmo que seja assassino e permanece por uma noite em meio aos amigos do preso. Prefere arriscar os céus do que ficar em terra em meio aos amigos do preso.

O avião estava com pouco combustível e por isso não poderia seguir viagem, nem no dia seguinte. Na pista da cidade não havia combustível para o avião.

- No garimpo do Amana, a quarenta minutos daqui há combustível – arrisquei, tentando ser útil e me arrependendo em seguida. Fui convidado a mostrar o caminho, tão logo amanhecesse o dia.

Depois do preso agasalhado numa cela da cidade, o pessoal foi jantar e às 7 horas da manhã nos encontramos na pista de pouso. Meu filho de nove anos nos acompanhava. O avião decolou, foi seguindo o maués-açu, sobrevoando o repartimento e indo o sul, rumo ao estado do Mato-grosso ou Pará. O rio Amana era facilmente distinguível por suas águas vermelhas pela ação das balsas e dos bicos-jato dos garimpeiros.

O avião era um Sertanejo da Embraer, apelidado de Sertanojo pelos pilotos de garimpo, por sua asa baixa, portanto de difícil operação nas pistas dos garimpos. Só tinha o assento do piloto e co-piloto. Tudo o mais fora removido para abrir espaço pra carga. Meu filho foi até o fundo, onde o corpo do avião se afunila, livre e solto dentro do avião. Chegamos na pista sem problemas. Por pista, entende-se uma estrada de terra, com 50 metros de largura. Da cabeceira da pista não se consegue ver o fim dela, não porque seja longa, mas porque há uma colina no meio.

Abastecemos o avião: 197 litros para encher o tanque.

- Quantos litros cabem? – Perguntei curioso.

- É medido em galões – explicou o piloto – que correspondem a 202 litros. Ainda tínhamos dois minutos de vôo. Ainda bem que não pegamos vento contrário.

- Podia ter me avisado. Deixaria meu filho em casa – falei sério.

- Esses moleques nadam melhor que nós – foi a resposta do piloto.

Luiz Lauschner
Enviado por Luiz Lauschner em 12/04/2008
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