Um "Quarto Mágico"

Um quarto mágico

O dia amanhecera ensolarado; o que não acontecia há vários dias..

Entretanto, a velha senhora tinha dúvidas quanto aquele sol.. Sua mãe dizia: Sol branco é prenuncio de chuva!

Nunca conseguira entender bem o que sua mãe chamava de “sol branco”. Mas algo lhe dizia que o sol daquela manha era volúvel.

Resolveu, entretanto, aproveitar aqueles raios insertos e dar uma examinada nas roseiras do jardim, que em tempo de chuva tornavam-se alvo fácil das formigas.

Os cachorros latiram advertindo que havia alguém no portão.

Era o carteiro. Trazia correspondência, e junto uma encomenda envolta em papelão.

A senhora recebeu o pacote. Saiu do jardim, entrou em casa, examinou a correspondência. O embrulho, ela já sabia que eram livros; encomenda feita já alguns dias.

Abriu o pacote, retirou os livros, e jogou ao lado o papelão grosso da embalagem.

Voltou à janela.... Sua mãe tinha razão! Já não havia sol, e as nuvens trazidas pelo vento eram escuras. Não tardaria a chover.

Na sala, o neto de sete anos, de olhos fixos na TV... O céu cada vez mais escuro.

De súbito, silencio... Não mais o som estridente dos desenhos vindos da TV..

O menino reclama que a TV havia desligado.

Falta de energia, diz a empregada.

O garoto fica irrequieto, sentindo falta da baba eletrônica que o mantinha hipnotizado.

A velha senhora sorri e sugere: Que tal brincar?

O pequeno olha espantado, duvidando que houvesse algo a fazer quando chove e falta luz.

_O que vamos fazer? Ele pergunta.

A senhora olha em volta, e vê sobre o banco, pronto para ser jogado no lixo, o papelão que viera embalando seus livros.. Faz uma sugestão.

_Que tal ir ao quarto mágico?

“Quarto mágico” era seu recanto predileto, onde costumava se refugiar dos atropelos da vida, dando asas a sua imaginação, enquanto escutava musicas, contrarias ao gosto do resto da família.

Ali conservava, papel, lápis, tesoura, tinta, tela, pinceis. Tudo mais que pudesse ser transformado em arte.

Pegou o papelão, entregou-o ao menino, dizendo:

_Vamos transformar este papelão em algo bem bonito!

E assim... Refugiados naquele mundo encantado:

Dobraram,furaram, amarraram....

Em segundos, para os olhos do garoto, já não há mais papelão, e sim um posto de gasolina. Ele recorta e cola figuras de carros e motos, pinta caixinha de fósforo, que transforma em bombas de álcool e gasolina. A imaginação não tem limite...

.

A luz já retornara, mas isso já não tinha tanta importância.

Alguém chamou por ele. Era hora de se aprontar para a escola.

Carregando sua obra, sai correndo para colocá-la em seu quarto; junto leva, pelo poder da criação, a confiança em si.

Queria que o pai, quando chegasse do trabalho, visse seu belo posto de gasolina.

A velha senhora permanece em seu quarto “mágico”. Coloca no aparelho de som, um noturno de Chopin. Ali se deixa ficar envolvida por aquela atmosfera!

O ônibus escolar buzina. Der repente, como um relâmpago, carregando a mochila, o neto surge na porta, e com os olhos brilhando, grita...

– Vó, este seu quarto é mágico!... ,

O menino não sabe que a mágica está nele; em seu olhar puro, capaz de imaginar, e transformar um papelão em algo sonhado.

A vó sorri... Olha pro céu através da janela, vê que já não chove... Novo raio de sol começa a despontar. A melodia se espalha no ar...

Sente seu coração em harmonia com o tempo!

.

Apenas as formigas continuam a podar as roseiras...

Lisyt

Lisyt
Enviado por Lisyt em 12/04/2008
Código do texto: T942020