O PEQUENO PODER...

Há cenas do cotidiano que são verdadeiras aulas de vida, posto que nos fornecem aprendizados com os quais nenhuma universidade jamais nos comtemplaria.

E foi assim que hoje, quase sem querer, pude presenciar numa fila algo que me faria refletir muito.

E ela estava lá, humildemente aguardando a sua vez.

Há anos, funcionária daquela renomada instituição de ensino, tentava adentrar um outro prédio do mesmo complexo, em frente do qual trabalhava.

-Olá, boa tarde!-disse em tom amigável.

-Cadê o seu crachá, perguntou-lhe tacitamente o homem atrás do balcão de informações.

-Ah José, eu o esqueci no bolso do jaleco, lá na minha sala e fiquei com preguiça de voltar.

-Mas você sabe que é proibido entrar sem crachá e depois, bastava você atravessar a rua para pegá-lo...

-José, eu não acredito, você me conhece há um tempão...olha José sou eu mesma, euzinha...

-Olha, eu poderia te mandar voltar sim, você sabe que EU posso, mas como sou muito GENEROSO, desta vez você passa, mas só dessa vez! - concedeu enfim, a bondade daquele homem com prepotência impressionante.

Ela lhe sorriu sem jeito, sem sequer olhar para trás, e seguiu seu caminho muito agradecida àquele ato de "caridade".

Confesso que me senti incomodada...

E foi assim que percebi que a filosofia está na vida!

É o tempo todo assim.

Pessoas de "poder", ainda que não detentoras dos "grandes poderes", perderam o bom senso, se bem que muitos deles na verdade nunca sequer o tiveram.

E acho que é exatamente porisso que são colocadas em determinados locais estratégicos!

Quem já não viveu situações em que se criam dificuldades para se vender facilidades?

E aquele pobre homem, tão necessitado que estava de exercer algum poder, ainda que fosse por alguns segundos, naquela portaria resolveu erguer a bandeira do seu ego generoso para reinar e humilhar publicamente.

Ali, na verdade "vendia" a imagem que gostaria de ter de si mesmo...

Sempre tive muito medo dos pequenos poderes, porque crescem demasiadamente em mãos erradas.

Portanto, com a vida eu já aprendi a fugir de toda e qualquer "generosidade".

Todas elas, costumam ter altos preços, e quase sempre brotam das desconhecidas entranhas do oculto despeito de alguns para com os outros.

Há um ditado que diz: " Deus me livre dos "amigos", porque dos inimigos me livro eu!".

Mas, quando o poder está em jogo, por menor que seja, amigos e inimigos são fronteiras não muito bem delimitadas.

E eu, que sempre odiei crachás, chego a pensar que são verdadeiros ícones INSUFLADORES do pequeno poder...institucionalizado.

Acreditem :é algo para se pensar...porque o assunto é sério.