Dias de Trovão

Dias de trovão

Algo que sempre me impressionou desde a infância foram os dias das chuvas de trovoada. Este fascinante fenômeno da Natureza exerce sobre mim um duplo sentimento: temor e esplendorosa admiração. Ao mesmo tempo em que receio os raios e o barulho dos trovões, sinto-me encantada com a estonteante beleza e tamanha manifestação do poder do nosso grandioso criador. Agora mesmo percebo os sinais de que ela vem chegando... o ar quente e abafado, as nuvens sombrias que deixam cair os primeiros pingos grossos aleatoriamente pelas ruas e a impetuosidade dos fortes ventos que batem portas e janelas, desfolham as arvores e assustam os passantes. Chegou! A chuva começa a cair copiosamente. Os céus, escurecidos pelos primeiros avisos da noite, agora reluzem com a claridade dos relâmpagos que cortam as nuvens. (nesta hora o medo começa a brincar comigo, pra piorar, falta energia.) Enquanto aqui dentro de casa as luzes se apagam, contraditoriamente lá fora, elas se acendem com os raios que riscam infinitos e irradiante na imensidão. Que espetáculo na Natureza! Pego um livro e tento ler à luz tímida da vela (experiência horrível), nem me concentro e os olhos doem. Guardo o livro, volto á sala. Vejo um clarão muito perto e tapo os ouvidos pressentindo o barulho que se aproxima. Ele veio mesmo, e forte! Parece que os céus estão desabando e o mundo também! Nesta hora tremo por inteira, penso nas pessoas que também têm medo e chego a rir delas (de nervoso) sei o que estão passando, não sofro sozinha. (E a luz que não chega!)

Lá fora a chuva e os trovões persistem, aqui dentro algo incomum e somente típico das noites de trovoada; estamos todos na sala DESLIGADOS de tudo.(costumamos, mesmo com energia, desligar todos os aparelhos, por medo dos raios). Portanto, não há ligado: TV, telefone, internet, aparelhos de som, dvd... Há só o barulho da chuva e o som baixinho das nossas vozes, relembrando o passado, a infância, os momentos passados em outras trovoadas de tempos distantes. E nessa conversa o tempo foi passando, a chuva foi rareando, escasseando, chuviscando... Passou!

Agora os raios já não assustam, a energia chega e os aparelhos são ligados, tudo volta a ser como antes. Lá fora só percebe-se que houve temporal nos pingos que ainda gotejam nos telhados das casas e nas águas que escorrem pelos meios - fios das ruas. Lembro-me que quando pequena, fazia barquinhos de papel, jogava-os nessas mine correntezas e ficava observando descerem rua abaixo. (minha vontade era acompanhá-los correndo junto com eles, mas minha mãe não deixava).

Para encerrar o espetáculo, abro as portas para algo que ainda estar por vir; a contemplação do depois. Sabe aquela sensação de que tudo está parado, como se ouvíssemos o silêncio do mundo? Não há movimento de carros nem de pessoas, o céu, apesar de já ser noite alta, encontra-se claro e sereno, passando-nos uma incrível tranqüilidade, como se quisesse nos dizer que o pior já passou e já não há mais o que se preocupar e que tudo foi preciso. Lavou-se o mundo, lavou-nos também, regou-se a terra, prepararam-se as novas sementes de vida nas fores e frutos que virão. Surge também a eclosão de vida nos ovinhos de tartarugas que esperam esses dias para nascer. Há muito mais... nesses pequenos grandes e indescritíveis momentos que só acontecem nas trovoada. Nesses instantes, além de meditar na beleza da criação sinto-me mais próxima de Deus e extasiada por sua infinita sabedoria na perfeição do universo físico.

Bem, o show acabou, chegam de divagações, mãos á obra! É preciso reorganizar a bagunça causada pela chuva. (hoje, além de tirar água da varanda, tenho que limpar as borras de velas que pingaram pelo chão). Sim, dizem que chuva de trovoada costuma se repetir no dia seguinte, será que ela vem de novo?

Gabriela Leite.Gomes. Prof. De Português,Literatura e Redação ( Escola Coriolano Carvalho e Colégio Maria José de Lima Silveira). Feira -Ba 28/0008