BARATAS

BARATAS

Lugar para dar barata igual àquele bairro ele estava para conhecer. Já havia dedetizado a casa quatro vezes no período de um ano, e nada. A coisa lá era tão feia que nenhuma firma dava garantia do serviço naquela região. Já tinha apelado até para uma novena para Nossa Senhora da Penha, mas chegou à conclusão de que naquele caso ali nem “noventena” daria solução.

Para você Ter uma idéia da gravidade da situação, devido à infestação de baratas no bairro um aluguel ali era, em média, cinco vezes menor que em qualquer bairro similar da cidade. Em resumo: até as casas ali eram baratas!

A pracinha do bairro logo ganhou o apelido de “Praça Barata Ribeiro”, plagiando uma rua de Copacabana, e o boteco mais popular do pedaço tinha o nome de BAR ATA: ou se levava a coisa na esportiva ou se mudava do bairro. Só que mudar não era coisa assim tão simples não: onde encontrar na cidade, e com o perdão do trocadilho, uma vida mais barata que ali?

O bairro tinha quase de tudo, faltava muito pouca coisa (tinha coisa que tinha até demais!). O que mais fazia falta mesmo era umas lanchonetes e ao menos um restaurante. Bem que já haviam tentado: o “Seu” Miguel mesmo teve, por uns meses, um restaurantezinho onde a comida até que era boazinha, ....... mas barata!

Bom, vida de preso não é nada boa, você sabe né (quer dizer, você imagina né?). Mas, pelo menos, a penitenciária ficava bem longe do bairro dele, e apesar de a higiene por lá não ser lá essas coisas (ou a higiene por ali não ser por ali essas coisas, ou ainda a higiene por aquelas bandas não ser por aquelas bandas essas coisas) via muito pouca barata. Tinha até dia em que não via nenhuma! Mas quando via alguma ficava alucinado: perseguia a bichinha com o chinelo em riste até dar cabo da danada! Era uma coisa meio anormal, meio obsessiva, seqüela, sem dúvida, do episódio que culminou com sua prisão, e que passo a lhes contar agora.

Foi assim: naquele dia acordou cedo, como de costume, matou uma barata que estava passeando pelo seu quarto, tomou café e, após a chegada da faxineira, saiu para o trabalho. Trabalhava no Baratão dos Tecidos. Acontece que a faxineira havia brigado com o marido na noite anterior. Briga feita, muito feia mesmo. Tão feia que o infeliz “não deixou barato” e resolveu matá-la, fazendo o serviço justo na casa do nosso amigo, atirando o corpo da coitada na cama do coitado.

Na hora do almoço nosso amigo encontrou o Sargento Almeida quando estava indo para casa, a quem oferecera, a poucos dias, uns dolarezinhos. O Sargento decidira ficar com a grana e quis acompanhá-lo até em casa para fecharem o negócio. Ele, como achava aquele cara um chato irrecuperável, tentou dissuadí-lo da idéia. Propôs mil e uma alternativas, mas nada: o sujeito queria ir à casa dele de qualquer jeito; e foi. Coisa de chato mesmo!

Ao abrir a porta de casa foi logo arrancando o sapato e matando umas quatro baratas (uma voadora!). Uma correu para o quarto e o Sargento foi atrás. Daí a pouco volta, transtornado. Ele pergunta:

- E aí Almeida, achou alguma?

- Tem uma morta na sua cama. Como é que o senhor me explica isso?

- Ah, fui eu que matei hoje de manhã. Se bem que eu matei foi no chão. Vai ver a nojenta se fingiu de morta e, depois que eu saí de casa, se arrastou até à cama!

ANTONIO ROCHA NETO