Feeling de jornalista
Era engraçado pensar nisso, mas eu sabia que ele era jornalista. Não tinha nada demais na roupa dele, ou no corte de cabelo. Não havia nenhuma pista sobre sua profissão em suas mãos e eu não o estava reconhecendo de nenhum antigo emprego nem da faculdade. Acontece que eu sabia. Como em geral eu sempre sei.
Era só um rapaz servindo sua bandeja na hora do almoço, mas ele era jornalista. E eu sabia. Eu já estava sentada, comendo, e observava as pessoas na fila do self service, mais por não ter outra direção para olhar do que por opção mesmo.
Mas aí ele olhou pra mim. O jornalista. Desviei o olhar pra não parecer que era flerte, porque não era. Não mesmo. Só que ele manteve o olhar e além de mantê-lo resolveu vir sentar na minha mesa. Veio sorrindo, bandeja na mão, e eu acompanhando toda aquela aproximação pensando: "fodeu, o cara achou que tô dando mole".
E quando ele, sorridente, apoiou a bandeja na mesa logo disse:
- Você é jornalista né?
Emudeci. Então era um reconhecimento mútuo! Sorri.
- Sou sim. E você também, certo?
Touché. Ele sentou, com uma expressão meio espantada.
- Você também sempre sabe?
Era quase um tom confidencial. Estávamos dividindo nosso dom. Me senti uma paranormal ou algo do gênero.
- Sempre. Mesmo diante de uma multidão de iguais, acho que eu saberia.
Ele riu. Começou a almoçar.
- Que legal saber que não é só comigo. Deve ser o jeito de olhar, imagino.
Bebi um gole de suco, concordando.
- É um olhar diferente diante das coisas todas.
- Observador mesmo
- E metido
- É....Aquele arzinho superior de "eu conheço como as coisas funcionam, seus mortais"
Rimos, os dois. Devia ser algum tipo de feeling desenvolvido na faculdade, algo assim. Foi quando uma moça de cabelos bem pretos e compridos pediu licença para sentar na mesa. Eu e ele nos entreolhamos. Falamos juntos.
- Você também é jornalista??!!
Ela quase derrubou a bandeja no chão.
- Tô no segundo ano, por que?
Gargalhadas nossas. Não deu pra segurar. Vai ver o feeling só despertava na colação de grau, né.