FESTA NA FAZENDA MANGAÍ
FESTA NA FAZENDA MAGAÍ
Contava Antônio Veloso que sua mãe Dona Naná, resolvera fazer uma festa no Mangai, distrito do município de São Francisco, outrora, mata virgem que tivera na pessoa de Juca Veloso, seu principal desbravador, mas o difícil era conseguir o santo.
Depois que ficara viúvo, seu Juca casou-se com Naná, sua prima legítima e logo veio Antônio, menino comprido, de olhos arregalados e nariz grande como a maioria dos Velosos. Juca, além de fazendeiro, era também, pedreiro, carpinteiro e dono de larga faixa de terras na Fazenda Mangai, onde criava quase quinhentas cabeças de gado.. Construíra sua casa com material extraído ali mesmo, pois dispunha de muita madeira de lei, barro de olaria e água na represa natural, formada pelos balseiros retidos nas pedras do rio Mangai.
A festa fora uma iniciativa de Dona Naná. Seria o primeiro leilão a acontecer na Fazenda Mangai. Tudo estava pronto, as jóias doadas pela vizinhança e os biscoitos caseiros feitos pela dona da festa para serem distribuídos aos convidados, mas ninguém tinha uma imagem de santo perto dali. Dona Naná soube que numa fazenda distante, havia uma imagem de São Benedito e resolveu tomá-la por empréstimo. Mandou Antônio Veloso a cavalo, buscar a imagem, sob a recomendação de ter muito cuidado com o santo gesso.
Antônio Veloso era o filho mais velho do segundo casamento de Juca. Cheio de peripécias, Antônio gracejava de tudo que via e das pessoas com quem tinha contato. Contava casos hilariantes em que ele mesmo ou alguém de sua família figurava como o principal personagem. Não se sabe até hoje, se suas histórias eram reais ou retiradas da fértil imaginação que possuía.
Por seu gosto, teria sido sanfoneiro e até tirava algumas notas em seu acordeom comprado contra a vontade do pai. Sanfoneiro morre novo, dizia seu Juca. Morre matado ou consumido pela cachaça.
Era assim mesmo, poucos ganharam a vida tocando sanfona, talvez Sivuca, Luís Gonzaga e mais recentemente, Dominguinhos. Seu Juca tinha razão, não podia deixar seu filho ser tocador de festa na roça. Ainda mais Antônio, que tinha o estopim curto demais.
Por sorte, o portador chega com a imagem cuidadosamente transportada, em cima da hora de começar o leilão. A festa transcorreu com muita alegria, todas as jóias foram arrematadas. Terminada a festa, D. Naná escolheu um lugar seguro para guardar a imagem que havia tomado emprestado a D. Nazaré, colocou-a sobre uma mesa de quase três metros comprimento por um e meio de largura. No dia seguinte, almoçaram na presença do santo que permanecia em pé sobre a mesa, feito uma estátua.
Era visível satisfação de Naná com presença do santo em sua casa e o resultado obtido no leilão, quase um conto réis. Tudo estaria muito bem se os restos de alimento que ficaram na mesa, não tivessem atraído o instinto de uma galinha de fartar-se com as sobras. Lá da cozinha, Naná grita: ”Corre, menino! Tange a galinha senão ela vai quebrar o santo”. Espantada a galinha patinou na mesa e foi de encontro à imagem que despencou no chão e quebrou o pescoço.
.Como não dispunha de melhores recursos para restaurá-lo o próprio Antônio Veloso fez uma cola de grude - goma de mandioca dissolvida em água e submetida ao fogo, colou o pescoço do santo com esse grude e levou de volta para a dona. Mal Antônio entregou a imagem Nazaré, olhando sua a estatueta quebrada, exclamou:
-Será o Benedito! Pode levar essa porcaria quebrada de volta.
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Adalberto Antônio de Lima