Sobre molas,pipas e flores(prisões invisíveis)

Sobre molas, pipas e flores.(prisões invisíveis)

“Amo a liberdade, por isso deixo as pessoas que amo livres. Se voltarem é porque as conquistei. Se não voltarem é porque nunca as possuí ”. Li em algum lugar essas palavras ditas por Jonh Lennon, as registrei e elas me surgem sempre à mente todas as vezes que observo atitudes de possessão e dominação de um indivíduo sobre o outro, quer seja nas relações de amor ou amizade.

É inquestionável a veracidade dessas palavras. Quantos problemas, desarmonias, conflitos e inquietações seriam evitados se conseguíssemos aplicar na prática o conselho expresso nessa idéia... “ DEIXAR AS PESSOAS QUE AMAMOS LIVRES”...Para alguns não é algo muito fácil de por em ação por serem dominados pelo ciúme, um sentimento que, quando sentido de forma exagerada torna-se extremamente desagradável, negativo e destrutivo.

Lembro-me que há muito tempo trabalhei com meus alunos uma fábula escrita pelo sábio Rubem Alves que ilustra muito bem a forma como acontece e as conseqüências que esse sentimento causa na vida das pessoas. A história falava de uma pipa que do alto do céu observou uma linda flor e se encantou com ela a tal ponto que lhe entregou a sua linha para que ela segurasse permanentemente. Todos os dias a flor soltava-a bem longe, admirando-a correr ao vento com outras pipas. Ao final do dia puxava-a novamente para a sua companhia, esse era o momento em que a pipa contava imensamente feliz as aventuras que tivera no ar. O tempo foi passando e a flor passou a notar a imensa alegria de sua amiga em desfilar com outras pipas lá no alto e começou a ficar com ciúme de vê-la feliz junto de alguém que não fosse ela. Surge então o medo de que a pipa gostasse de ficar mais com as outras companheiras do que com ela. Esse temor foi de tal forma que passou puxar a linha cada vez mais, chegando ao ponto de não mais solta-la. A pipa foi perdendo sua alegria, seu brilho, sua vivacidade, e já não era a mesma, a pressão de ser obrigada a só ficar perto da flor deixou-a infeliz. Desencantou ...desamou....

E assim se dá com os seres humanos, existem pelo mundo afora milhares de pipas que vivem privadas de liberdade, aprisionadas emocionalmente às mãos de determinadas flores egoístas que são dominadas pelo ciúme descontrolado. Este sentimento surge do medo de perder a afeição da pessoa querida para um outro ser. O cimento sente-se ameaçado em ver a pessoa que gosta alegre junto de outras pessoa e longe dele. O que revela na verdade a insegurança deste que de alguma forma sente-se inferior a outros indivíduos. Por se sentir ameaçado acaba privando a liberdade da pessoa que ama como forma de se proteger da perda, e termina por levar a uma tensão contínua que desgasta a todos os envolvidos. Podemos comparar ao mesmo esforço que alguém tem de fazer para manter uma mola pressionada entre as mãos, é preciso exercer uma pressão contínua e interrupta, para impedir que se solte, pois qualquer descuido e a mola escapará a toda força. (quanto maior a pressão mais longe ela irá após solta). Quanto gasto de energias em vão! Para tê-la sempre em suas mãos bastaria tão somente que a deixasse sem pressão alguma sobre suas mãos ABERTAS. Nota-se então que deixar o outro livre resulta em liberdade para si mesmo. Vigiar as ações do outro é viver na prisão dos seus próprios sentimentos, trazendo infelicidade para todos os envolvidos.

Para alguns essas atitudes imaturas são demonstrações de verdadeiro amor, mas,.... Seria amor privar o ser amado de liberdade? Esta concepção está totalmente desvinculada ao consenso que se tem de amor. Uma canção popular da MPB, por exemplo, afirma que “quando a gente ama agente cuida”. Na Bíblia, o apóstolo Paulo também, apresenta um lado bastante positivo e atraente desse sentimento quando diz que “O amor é longânime e benigno. O amor NÃO É CIUMENTO, não se gaba, não se enfuna,não se comporta indecentemente, não procura seus próprios interesses, não fica encolerizado...’’(1 coríntios cap.13:4,5) Como se vê o ciúme não compartilha dos elevados padrões do amor. Quem ama de verdade se importa com os sentimentos do ser amado e não faz algo que o faça sofrer, ao contrário faz de tudo para vê-lo bem.

Voltando á fábula contada, qual teria sido o provável desfecho?... a flor continuou prendendo a pipa até o fim?..Ela conseguiu finalmente escapar e fugir num forte vento para bem longe dali?...Ou melhor, a flor egoísta percebeu seu erro e soltou-a espontaneamente para a liberdade e a felicidade de ambas? Bem, qualquer que tenha sido o final dessa fábula, o importante é a reflexão que dela podemos tirar...Valeria a pena ter alguém perto de nós, por pressão? Teríamos o direito de privar quem gostamos de manifestar suas escolhas ? Seria válido sermos felizes às custas da felicidade do outro? Não seria mais sábio admitir que a liberdade e a confiança e a importância que damos a quem gostamos os fazem sentir mais seguros e felizes? E que por agirmos assim nos dará a garantia de que mesmo que a todo momento não estejam ao nosso lado, teremos a certeza de que mais cedo o mais tarde sempre irão voltar?

Bem leitor, a linha da pipa está sendo passada às suas mãos, e esse final depende de você.

Gabriela Leite Gomes ( Professora de português,

Literatura e Redação) Escola Coriolano Carvalho E Colégio Maria josé de Lima Silveira

Feira de Santana –Bahia 18/02/2008