Rio de Janeiro Antigo: o bonde e a literatura
O bonde nas cidades brasileiras é antigo, era movido por tração animal e foi uma revolução no transporte nas cidades. Vem do tempo do Segundo Império, até que em 1892 foi colocado nos trilhos o primeiro movido a energia elétrica, no Rio de Janeiro.
Causou estranho e curioso reboliço na cidade, chegando mesmo à pena de Machado de Assis. “O que me impressionou, antes da eletricidade, foi o gesto do cocheiro. Os olhos do homem passavam por cima da gente que ia no meu bond. Sentia-se nele a convicção de que inventara não só o bond elétrico, mas a própria eletricidade.” – Crônica para “A Semana”, de 16 de outubro de 1892.
Não foi a única manifestação feita por escritor. Oswald de Andrade também escreveu sobre o veículo. “Eu tinha notícia pelo pretinho Lázaro, filho da cozinheira da minha tia, vinda do Rio, que era muito perigoso este negócio de eletricidade. Quem pusesse os pés nos trilhos ficava grudado e seria esmagado facilmente pelo bonde.” – “O Bonde e a Cidade”.
Insistir nas citações vai cansar. O fato é que havia uma firma tradicional que colocava anúncios dentro dos bondes, e os seus usuários podiam ver os mais diversos produtos festejados em prosa e verso.
Mas segundo muitos, certa ocasião Olavo Bilac estava sem dinheiro. Resolveu fazer uma publicidade para ser posta no bonde, e foi talvez a mais famosa.
“Veja ilustre passageiro
o belo tipo faceiro
que o senhor tem ao seu lado.
No entanto, acredite,
quase morreu de bronquite.
Salvou-o Rum Creosotado.”
A publicidade teria rendido um bom dinheiro a Bilac, mas há quem afirme que o verso não é dele, mas do poeta Bastos Tigre. Difícil apontar o autor, mas parece que Bastos Tigre teria prestado um favor a Olavo Bilac, dando como sua a poesia de propaganda do Rum Creosotado.
São histórias que fazem parte do Rio de outras épocas, quando namorar pelas ruas da cidade, voltando do cinema às dez da noite, não amedrontava ninguém, os bandidos eram malandros famosos e faziam ponto na Lapa. Todos conhecidos. Miguelzinho, Camisa Preta, Madame Satã...
Ainda existe o bucólico bonde de Santa Teresa. Mas sem o anúncio do Rum Creosotado...