Vavá e as Crianças
Vavá adora crianças. De certo modo, Vavá nunca cresceu, por isso, as crianças também o adoram. Ele é daqueles que brincam com elas como se uma delas fosse. Com elas rola na grama, espalha a água da piscina, joga bola e até brinca de boneca. Adapta as piadas que conhece, a maioria indecente, para que possa contá-las aos seus pequenos e atentos ouvintes, inventa histórias, passa trotes. Gosta de gibi e desenho animado, gasta horas imaginando as brincadeiras que fará com os sobrinhos.
Se Vavá vai a uma festa, é mais fácil enturmar-se com os pequenos do que com os adultos estranhos. É divertido ver aquele homenzarrão cercado de petizes. Sim, homenzarrão. Porque o tanto que ele não cresceu por dentro, ele cresceu em dobro por fora. Casado há mais de dez anos, sua maior frustração era não ter seus próprios filhos. Longe de tornar-se amargo e infeliz, nas crias dos outros ele se realizava.
Porém, sua falta de juízo quase infantil acabou por lhe fazer protagonizar alguns episódios quase trágicos.
Numa ocasião, na lanchonete de uns amigos, estava brincando com a filha do dono do estabelecimento, uma linda garotinha de cinco anos. De repente, ela cismou que precisava fazer xixi. Estava quase na hora de fechar e os empregados estavam lavando o piso. Assim, ele resolveu passá-la por sobre o balcão para que seu pai a levasse ao banheiro, no interior. Assim que a levantou, ouviu o grito:
- Vavá! Cuidado!!
Mas já era tarde. O ventilador de teto ligado e a criança precisou levar seis pontos na cabeça. Seus pais nem conseguiram brigar com ele. Ele chorava mais do que a pequena, um choro sentido, de garoto apanhado fazendo traquinagem e traquinagem séria que machucou alguém. Até a menina, depois de medicada o abraçou, consoladora:
- Não fica assim, tio Vavá, eu vou ficar boa! - e mostrando o presente do médico - e olha! ganhei um pirulito!
O outro episódio foi mais hilário.
Estava com a esposa num churrasco. Na casa, havia uma piscininha, quase uma banheira. Quadrada, não devia ter mais de um metro e meio de lado e cerca de quarenta centímetros de profundidade. Suficiente apenas para que a criançada se acotovelasse na tarde muito quente e abafada, por um banho refrescante. Vavá, em um determinado momento, jogou uma delas na água. Para quê? Imediatamente formou-se uma fila atrás dele:
- Tio, me joga!
E Vavá, tchbum!, lançava a criança na água.
- Tio, me joga!
E outro garoto era atirado no tanque.
- Tio...
Tchbum! E a menina cai na água e em seguida, no choro, aos berros.
A mãe tenta socorrê-la mas a gravidez adiantada a impede e, impotente, também ela começa chorar. O pai não sabe se socorre a menina, a esposa ou se parte pra cima dele, enfurecido. Vavá fica atônito, abobalhado pela cena caótica, não consegue ajudar nenhuma, nem outra. Finalmente, outro dos convivas retira a menina da água e a entrega para a mãe. As duas se abraçam, aos prantos, e assim, ficam vários minutos. Uma eternidade para o pobre Vavá que só consegue balbuciar pedidos sentidos de desculpas.
O pai da menina finalmente explica:
- Ela tem trauma de água.
- Ué!? E por que veio me pedir para jogar na água?
- Ela veio dizer para não jogar... Você não deu tempo.
Motivo das piadas dos amigos, por algum tempo, virou Vavá Herodes...
Vavá não aprende... Ontem mesmo eu o vi. Num churrasco, em casa de amigos, ele estava lá, cercado de crianças na piscina, perigosamente disputando quem agüentava ficar mais tempo com a cabeça submersa, enquanto os pais delas, bebendo calmamente como adultos, o vigiavam, atentamente, de longe.