ACHO QUE NÃO VI UM GATINHO
Ela pediu um gatinho - "Para treinar a ter filhos” - argumentou - "Bons pais começam como bons donos de bichos".
Moramos num "apertamento" no centro e ficamos o dia todo fora. Gato não é tão carente quanto cachorro, mas precisa de atenção, cuidado e tempo. Como recusar o pedido dela? Como convencê-la que não é uma boa idéia?
Entenda, eu nunca tive um bichinho de estimação, mas sempre quis um. Fui criança incompleta, sem gato para brincar, sem cachorro para correr. Nunca quis ter passarinho, sendo voador precoce, sempre fui militante do movimento "Liberte o Ninho", afinal, canto de passarinho livre é jazz, canto do preso é blues. O mais próximo que tive de um pet foi um porquinho-da-índia, nome pomposo para o preá que acabou mordendo o dedo do meu pai e foi punido com morte, fogo e prato. Vai ver meu pai achou que o preá era mesmo porquinho.
Nunca tive nem aquário, imagina iguana. O mundo animal sempre foi National Geographic para mim, com exceção de um casal de serpentes que moraram comigo em Londres e que sumiram misteriosamente - esquecidos, vai ver cobra não tem mente - não lembraram de deixar o dinheiro do aluguel e do telefone.
Contudo, sempre quis ter a amizade de um cachorrinho ou o mistério do olhar de um gato. Queria experimentar esse tal amor por esses bichanos, que dizem por aí, se não é igual, é tão intenso quando o amor que sentimos por nossos filhos. É o que dizem, nunca tive nenhum, nem outro; por isso estou indeciso, ansioso. Cedo ou não cedo?
Não é tão simples, amigos. Assim como ter um filho, criar um cãozinho ou um gato, requer comprometimento e responsabilidade. Se todos pensassem bem antes de escolher ser dono de um bicho, não teríamos tanto cachorro e gato soltos por aí, perdidos, abandonados, presos, desenganados e mortos.
Quero que ela tenha um gato ou um cachorro, mas não agora. O animalzinho, assim como o filho, terá que esperar mais um pouco.
Frank Oliveira
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