Amenidades: acarajé e pipoca
Com o aplauso da população baiana, realizou-se em Salvador o festival do Acará Didun.
Em outras palavras: o festival do acarajé, "uma das oferendas que se faz à orixá Oiá-Iansã, senhora do fogo, dos raios e dos ventos".
Como não podia ser diferente, durante o evento foi contado tudo sobre o famoso bolinho de feijão fradinho frito no azeite-de-dendê.
E, com justiça, deu-se o devido destaque às nossas queridas baianas do acarajé.
Pelo menos para este escriba a baiana do acarajé, com seus tabuleiros enfeitados em cada esquina de Salvador, é o mais legítimo cartão-postal da Bahia.
Não vou dizer, aqui, como se faz o acarajé. Sua receita aparece em qualquer folheto sobre a Boa Terra.
Muito mais interessante, assim me parece, é avisar que só na Bahia ele é saboreado na sua forma original e com as bênçãos dos Orixás.
O bolinho é tão amado que, tempos atrás, um vereador de Salvador apresentou um projeto de lei considerando o acarajé "patrimônio da cidade".
Perdi de vista o vereador e o projeto. Por isso, não sei informar se a Câmara "apreciou a matéria" e a aprovou.
Se o fez, agiu corretamente. Melhor do que sair por aí distribuindo títulos de "cidadão soteropolitano" a deus e o mundo.
Levando-se em consideração que a Bahia tem a melhor e mais variada culinária afro do Brasil, não duvidem se, de repente, alguém surgir com o projeto propondo que o vatapá, o caruru e o abará - só para citar três excelentes quitutes - sejam, também, considerados patrimônio desta urbe negra, mulata e abençoada.
Ou envolvendo num só pacote todas as guloseimas oferecidas pelos deuses afros, um projeto propondo a construção do Memorial da comida baiana, dispensada a licitação.
No primeiro momento, os edis até poderão ser criticados; mas a "histórias os absolverá". Que história?
*** *** ***
Há muitos anos, ouvi de uma baiana do acarajé mui querida, dona de um tabuleiro na praia de Amaralina, que a pipoca é, também, uma comida sagrada no candomblé.
Por isso eu acho, que se os vereadores, nesta ânsia louca de homenagearem a mística culinária baiana esquecerem a pipoca, cometerão um grave erro.
No embalo, deixo-lhes uma dica, a título de colaboração: se quiserem que o "projeto da pipoca" tenha uma fundamentação erudita e religiosa, recorram ao escritor Rubem Alves.
No seu livro O amor que acende a lua, o belo cronista mineiro tem u ´a saborosa crônica sobre a pipoca: a pipoca e seu significado dentro e fora do candomblé.
Por fim, arisco-me a dizer, que deixando a pipoca de lado, os vereadores salvadorenses (arre!) poderão perder a simpatia dos Orixás.
Sim, porque na Bahia há sempre um Santo (meu santo!) acompanhando e fiscalizando o dia-a-dia de seus filhos e de quem a quer, digamos, como mãe adotiva.
Não é por acaso que carrego no bolso do paletó o meu patuá, ao lado de uma fitinha do Bonfim...
Com o aplauso da população baiana, realizou-se em Salvador o festival do Acará Didun.
Em outras palavras: o festival do acarajé, "uma das oferendas que se faz à orixá Oiá-Iansã, senhora do fogo, dos raios e dos ventos".
Como não podia ser diferente, durante o evento foi contado tudo sobre o famoso bolinho de feijão fradinho frito no azeite-de-dendê.
E, com justiça, deu-se o devido destaque às nossas queridas baianas do acarajé.
Pelo menos para este escriba a baiana do acarajé, com seus tabuleiros enfeitados em cada esquina de Salvador, é o mais legítimo cartão-postal da Bahia.
Não vou dizer, aqui, como se faz o acarajé. Sua receita aparece em qualquer folheto sobre a Boa Terra.
Muito mais interessante, assim me parece, é avisar que só na Bahia ele é saboreado na sua forma original e com as bênçãos dos Orixás.
O bolinho é tão amado que, tempos atrás, um vereador de Salvador apresentou um projeto de lei considerando o acarajé "patrimônio da cidade".
Perdi de vista o vereador e o projeto. Por isso, não sei informar se a Câmara "apreciou a matéria" e a aprovou.
Se o fez, agiu corretamente. Melhor do que sair por aí distribuindo títulos de "cidadão soteropolitano" a deus e o mundo.
Levando-se em consideração que a Bahia tem a melhor e mais variada culinária afro do Brasil, não duvidem se, de repente, alguém surgir com o projeto propondo que o vatapá, o caruru e o abará - só para citar três excelentes quitutes - sejam, também, considerados patrimônio desta urbe negra, mulata e abençoada.
Ou envolvendo num só pacote todas as guloseimas oferecidas pelos deuses afros, um projeto propondo a construção do Memorial da comida baiana, dispensada a licitação.
No primeiro momento, os edis até poderão ser criticados; mas a "histórias os absolverá". Que história?
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Há muitos anos, ouvi de uma baiana do acarajé mui querida, dona de um tabuleiro na praia de Amaralina, que a pipoca é, também, uma comida sagrada no candomblé.
Por isso eu acho, que se os vereadores, nesta ânsia louca de homenagearem a mística culinária baiana esquecerem a pipoca, cometerão um grave erro.
No embalo, deixo-lhes uma dica, a título de colaboração: se quiserem que o "projeto da pipoca" tenha uma fundamentação erudita e religiosa, recorram ao escritor Rubem Alves.
No seu livro O amor que acende a lua, o belo cronista mineiro tem u ´a saborosa crônica sobre a pipoca: a pipoca e seu significado dentro e fora do candomblé.
Por fim, arisco-me a dizer, que deixando a pipoca de lado, os vereadores salvadorenses (arre!) poderão perder a simpatia dos Orixás.
Sim, porque na Bahia há sempre um Santo (meu santo!) acompanhando e fiscalizando o dia-a-dia de seus filhos e de quem a quer, digamos, como mãe adotiva.
Não é por acaso que carrego no bolso do paletó o meu patuá, ao lado de uma fitinha do Bonfim...