Mãe
 Como está a Tia Vanda, tens notícias?
- “Pega aquela panela grande, de cabo preto”.
Mãe, por favor, olha pra mim. 
Responde o que te perguntei.
- “Teu pai deve ter guardado em outro lugar. 
Esse “véio” me deixa nervosa, mais de 60 anos de casamento e ele ainda não sabe guardar as coisas”.
Olha aqui mãe, a senhora também me deixa nervoso,
eu não tenho paciência com essa sua surdez.
Mãe, por favor, presta atenção mãe!
Eu queria só conversar um pouco com a senhora, 
mês que vem vamos ter de novo o Dia das Mães 
e eu preciso te agradecer.
Quero confessar que sinto saudades das pamonhas, 
dos curaus, das canjicas, daquele bolo gostoso
 de coco branco. 
Me enche a boca d’água lembrar os pudins 
de leite condensado.
O macarrão feito à mão nos domingos 
e aquele frango verde, 
que só a senhora sabe fazer.
Eu não posso comer mais nada disso mãe
preciso emagrecer.
- “ Gusto..., fiz arroz doce, está ali na geladeira.
Eu não consigo entender o tempo. 
Em cada abraço que te dou mãe, 
eu sinto que tua pele descolou dos ossos, 
eu sinto teus ossos.
Eu quero te pedir perdão minha mãe, 
enquanto podemos nos olhar.
Perdão por minha estupidez, 
que vez ou outra te faz chorar.
Eu queria poder ter força pra te pegar no colo, 
te carregar pelas ruas, te mostrar a natureza, 
como a senhora fazia comigo 
quando eu era pequenino.
Eu queria retribuir minha mãe, o peito que me deu
para mamar quando eu ainda não tinha dentes,
mas eu só posso te oferecer meu peito cansado, 
para te amar sempre.
Fico com raiva disso tudo. 
Da minha impotência...  
Eu queria parar o tempo mãe,
pra te ter sempre comigo, embora eu saiba 
que cada dia vivido é um a menos a ser vivido.
Quero te agradecer mãe, por eu ser só emoção, 
por chorar à toa e hoje,quando meus cabelos já
estão ficando prateados como os teus ...
...por poder te dizer ao vivo...
Eu te amo.
Augusto Servano Rodrigues
Enviado por Augusto Servano Rodrigues em 08/04/2008
Reeditado em 08/04/2008
Código do texto: T936776
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