A VELHICE .

 

 

   Dos muitos medos que já tive na vida o que mais me incomodava era o fato inevitável de que um dia teria que ficar velho. Quando era mais jovem fazia uma idéia absurda sobre a velhice e confesso que em certa fase da minha vida cheguei a pensar que envelhecer era a mesma coisa que se tornar um trapo ou simplesmente transformar-se em algo absolutamente inútil.

    É bem verdade que alguns exemplos bem próximos me faziam enxergar a vida dessa maneira tão cruel mas, e tem sempre um mas, há muitos anos quando eu ainda era bem jovem, um senhor de cabelos totalmente brancos me disse que a vida se dividia entre os menores e os maiores de sessenta .

   Não época em que recebi tão profundo ensinamento não dei nenhum valor e devo até ter achado graça pois com minha enorme imaturidade (para não dizer ignorância), julgava que velho era velho e para se considerar velho bastava simplesmente que surgisse o primeiro fio de cabelo branco.

   Hoje, felizmente penso de forma completamente diferente e me atrevo a dizer, com base em inúmeros exemplos de pessoas com as quais me encontro com certa frequência, que na verdade não existe a chamada velhice, pelo menos da forma que eu tanto temia.

   Sou maior de sessenta (muita gente que me conhece não acredita) com muito orgulho e embora meu corpo não deixe transparecer essa bela idade, percebi (porque a vida me ensinou) que dependendo do meu pensamento positivo e firme, além das minhas atitudes , posso ter a idade que bem entender ou simplesmente ignorar minha idade real. A decisão é minha.

   Sei perfeitamente que a marcha do tempo é implacável mas e daí ? Qual das atitudes é a mais correta, ficar sentado numa cadeira de balanço vendo o tempo passar ou acompanhar a evolução da vida (está certo que andando um pouco mais devagar mas sempre seguindo em frente) ?

   Posso citar vários exemplos de maiores de sessenta que a cada dia sentem-se como se a vida estivesse só começando mas hoje, gostaria de comentar especialmente sobre duas situações.

   A primeira delas foi na noite do último sábado quando fui jantar com minha mulher numa churrascaria próxima a minha casa. Bem à minha frente estavam sentadas duas senhoras que pela aparência deveriam ter no mínimo mais de setenta anos.

   Elegantemente vestidas conversavam animadamente, rindo, contando piadas (algumas eróticas) e ambas bebiam sem nenhum pudor ou constrangimento aquele chope geladinho (fazendo questão do colarinho grosso). E encerraram o jantar com uma bela garrafa de vinho verde.

   Tive a oportunidade de ouvir que uma deles teria que voltar mais cedo para casa pois iria encerrar a noite num encontro com o namorado. A outra perguntou, entre risos maliciosos, se sua amiga ainda estava em idade para namorar. Também entre risos, a amiga respondeu que estava sim e ela era dessas que não deixava o parceiro pegar no sono.

   O outro fato que me chamou a atenção foi a de um senhor com setenta anos completos que estava feliz da vida pois finalmente, após ter criado e casado as cinco filhas, estava conseguindo um tempinho para entrar na escola para ser alfabetizado. Orgulhoso dizia que ele mesmo tinha ido a uma papelaria comprar caderno, lápis e caneta e estava ansioso para que as aulas começassem.

   Ao ser perguntado se queria seguir alguma carreira o senhor respondeu, sem vacilar, que pretendia ser advogado, pois assim poderia cuidar do divórcio de uma das filhas, que estava a algum tempo emperrado na Justiça.

   Eu poderia também mencionar aquela senhora de quase oitenta anos que ainda lecionava para adolescentes. Ou mesmo aquela bisavó que adorava saltar de paraquedas. O vovô de sessenta e nove anos que jogava um futebolzinho com os amigos nos fins de semana.

   São exemplos (e que exemplos) de que a vida física de fato só acaba quando termina e sendo assim, por que não alimentar os nossos melhores sonhos e lutar pela realização dos grandes projetos ?

   Por que não viver cada minuto intensamente, seja qual for a idade que indicar nossas carteiras de identidade ?

   Por que não namorar, dançar, cantar, sorrir, tomar chope, dirigir, dar aulas, tocar piano, fazer serestas e poesias, independente da quantidade de cabelos brancos e das rugas. Aliás, por que essa tolice de tentar esconder as rugas e os cabelos brancos ?

   É por essas e por outras que respeito e sigo os conselhos daquele senhor que freqüenta uma academia de ginástica, tem namorada firme (é viúvo pela segunda vez) e que acaba de completar oitenta belos anos.

   Ele costuma dizer que idade....é apenas um mero detalhe.....

 

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(.....imagem google.....)

WRAMOS
Enviado por WRAMOS em 08/04/2008
Reeditado em 09/01/2013
Código do texto: T936462
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