AMOR (ou-seja-lá-o-que-for)
Interessante como adolescente ama. Todo amor (ou-seja-lá-o-que-for) como se fosse único, último, fatal. Todas as músicas falam nisso, sejam cantadas pela Joelma ou pela Bioncé. Todas as músicas estão oferecendo a maior e melhor mercadoria do mercado afetivo e sexual: "amor" (ou-seja-lá-o-que-for).
Tudo apela para que as pessoas possam experienciar o amor (ou-seja-lá-o-que-for); inventam-se novos modelos de roupas (a maioria só cobre mesmo alí e alizinho), novas tecnologias (tome o shake fulano e fique lindo, faça esse exercício e tenha a barriguinha dos seus sonhos), a indústria cosmética e da moda (perfume tal fará com que você atraia todos os olhares, inclusive o dos gays..kk), enfim...tudo isso já foi falado e explicado pelos maiores pensadores, filósofos e afins.
Entretanto, o amor de verdade, essa palavra que é não-dita e que não se banalizou, não requer trilha sonora e nem aroma embriagador. Não tem sabor e não tem cor. Não requer espírito brilhante e sequer um corpo perfeito.
O que, eu e algumas pessoas como eu, crêem é que essa palavra não dita, contém todo respeito desse mundo, o acolhimento necessário aos nosso inúmeros defeitos, a compreensão (passível de suspensão) ante aos nossos esquecimentos e desleixos, a mão de força que nos ajuda a trocar o pneu furado do carro da nossa existência, o plano de vôo conjunto, a divisão de dívidas e tarefas absolutamente cotidianas, o olho inchado matinal, a profunda divergência ideológica e o conforto de um ombro no sofá da sala assistindo o Programa Legal.
Mas, o engano continua, cuidadosamente preservado nos filmes de amor (ou-seja-lá-o-que-for), nas músicas de amor (ou-seja-lá-o-que-for) que vendem muito e enriquecem seus interpretes. Na fantasia romântica dos seus pais que ainda se agarram ao sonho adolescente do "Romeu e Julieta" (romance que só é lindo por que ambos morrem...vivos cairiam no absoluto tédio e na rotina mais corriqueira).
O adolescente se vê na obrigação de viver o amor (ou-seja-lá-o-que-for), por que na adolescência não existe quase. Aliás, só adultos viram "pessoas quase", quase amaram (ou-fosse-lá-o-que-fosse), quase fizeram, quase conseguiram.
Na adolescência não se "quase" vive o amor (ou-seja-lá-o-que-for). A adolescência se vê instada a "cair de cabeça" nas emoções mais improváveis. Criar para si uma melodramática tragédia de amor (ou-seja-lá-o-que-for), com lances emocionantes, com a dor excruciante da separação, a auto piedade, a piedade alheia, o orgulho pisoteado...enfim, todas as lacinantes e, porque não dizê-lo, vagamente bregas, emoções do amor (ou-seja-lá-o-que-for).
Mas, isso é uma fase. Apenas uma breve fase do movimento que se chama vida; todo mundo já sofreu por amor (ou-seja-lá-o-que-for).
O perigo é se viciar nisso e nunca superar o próximo amor (ou não-sei-o-que) perdido. Ou por outra ficar covarde e nunca mais experimentar o amor (ou-seja-lá-o-que-for)futuro. Por que, sim, esse amor (ou-seja-lá-o-que-for) é extremamente necessário à vida e a sanidade, à aquisição de experiência e à fatal condição humana; na verdade, é quase parte de nossos átomos.
Assim, adolesçam bem e respirando amor (ou-seja-lá-o-que-for), só não esqueçam de crescer e lembrar que o amor de verdade não dá notícia e não precisa de nenhum cenário ou trilha sonora especial, ele acontece..