Classificação indicativa
Simplesmente nos acostumamos. Aceitamos a inexistência de escola superior para todos. O que existe é supressão. A exclusão massiva garantida pela provação com o obsequioso nome de vestibular. (Ritual de passagem pela segregação educacional). Busca de qualidade equivocada com aproveitamento para poucos. Da mesma forma que nos habituamos com o aprendizado sem remuneração, permanecendo a lição do ensino como custo sem benefício social imediato.
Aceitamos que os ídolos nos representem como homens bem sucedidos enquanto o recurso para o conhecimento é reduzido. Acolhemos a cumplicidade desses heróis com o poder excluindo a chama da liberdade tibetana. Sem a verdade olímpica. Preferimos os heróis. Representantes do entesouramento a partir da noção do esforço físico. Discorremos com certeza sobre a poluição abrangente e vibramos com corridas automobilísticas de longa duração como se não produzissem nenhum resíduo sobre o prazer vitorioso. Meta de vencedor exclusivo em alta mobilidade sobre o quietismo. Aceitamos a classificação indicativa anunciada pela linguagem de sinais (Libras) e nem sabemos se a programação a seguir está legendada para o público com necessidade especial.
É de pifar a sensatez o quanto aceitamos ligar a televisão para observar nos filmes distribuídos à bomba arrancando pedaços, o tiro certeiro, enfim, a maldade horrenda. Já o amor e o sexo são alarmantes, mas a violência explícita é aceitável em qualquer horário. Basta ligar e assistir a tragédia inefável.
Gozamos da singularidade daqueles que ficaram ricos por nós. Loterias como o monoteísmo da sorte enquanto a maioria sonha com algum emprego mal remunerado. E que prêmio melhor seria distribuído! Aceitamos a interdição dos meios de comunicação que é explorada de modo segmentado graças ao poder de barganha. Se quiser tudo pague mais! Se apetecer falar com alguém urgente dependerá de operadoras que funcionam num lado e no outro haverá apenas um aviso de voz recusando a ligação. A pauta geral do controle determina o complexo de interdições. O controle das interdições.
A pobreza do conhecimento segue inventando capacidades excepcionais e amontoando incapazes no mito da representatividade. O modelo ideal cria uma geração de regredidos a cada década. Os excluídos são passivos da linguagem incompreensível. Os especialistas tomam o primeiro lugar da oportunidade livre. A moral tempera o bolo da exclusividade plantando redentores que se locupletam em grupos restritos. Simplesmente nos acostumamos.
O enfoque amontoa nos desejos coletivos uma dinâmica voraz em nome da audiência. Sempre sobre dramas atrozes. O critério fundamental é reflexivo demais, não cabe na linguagem simplificada do pronto julgamento. As imagens da maldade deviam ser lidas, porém nunca divulgadas como atividade banal do ofício. Assistir as imagens da iniqüidade ficou sendo ato de liberdade dos meios de comunicação. E a imagem da crueldade é instigante aos maus, logo se identificam com esse falso livre-arbítrio, reagindo como atores do mal na sociedade. O sensacionalismo lucrativo confere a ignorância perfeita agilidade da má-fé. Simplesmente nos acostumamos. Somos consumidores consumidos. Programados pela programação. A informação substituiu a necessidade da educação.
A televisão em sala de aula vem com “tutor” que é esse bedel moderno ao lado da tela durante a aula. Plantado ao lado da televisão sem responder nada. Ele liga, anota e desliga. O professor ao que parece não se faz necessário presencialmente. É o modelo do conhecimento moderno sem comentários. Comentários só nos tópicos da Web. Formatações adequadas em troca de formaturas. Os estudantes perdidos e ingênuos estão preocupados com o elevado nível de vida do Reitor de forma manifesta. Se ao menos lutassem por salários estudantis! Pouco importa nos acostumamos na abstração com a pobreza material.