Bunda de policial francês...
É aguada, engelhada, nem redonda, nem quadrada, não é cheia, não é murcha, sem sal, sem açúcar, destemperada, desgovernada, não dá vontade de ter, não dá vontade de comer. É uma bunda cu, bunda de cara, cara de bunda... Foi a cara que fiz ante às imagens das águas turvas, torrenciais, que engolem o Nordeste nunca verde, comumente seco, de quando em vez afogado, sempre na corda bamba, sempre no limite entre a morte e a vida... Meus antepassados, portugueses e índios, concluíram que alí seria um lugar possível. Como?
No inicio das enchentes, fui ao cume da felicidade ao ver um vídeo do Rio Salgado, transbordante, quase cobrindo a ponte Piquet Carneiro, projetada pelo avô do campeão de Formula Um, Nelson Piquet. Dos arcos daquela Ponte saltei muitas vezes, igualzinho aos meninos de hoje (veja o vídeo no orkut). Emocionei-me sobremaneira ao ver a molecada despencando lá de cima e ‘tibum’ nas águas revoltas... É fato que alguns desses meninos são levados pela correnteza e nunca mais voltam. Mas, ninguém deixa de saltar no rio que mais parece um mar, um mar furioso que devasta casas, pessoas, animais, plantações...
Quando vou ao Icó, prefiro ir durante as chuvas. É impressionante a quantidade de água que surge, não se sabe de onde, e alaga tudo! Só vendo para crer. Que coisa indefinível é a natureza nordestina, a caatinga, o sertão... No meu primeiro romance, O Último Coronel, narro às enchentes da década de 70, quando se temia o rompimento do açude de Orós... E também falo de uma lenda que corre na cidade até hoje. Diz-que uma grande enchente trouxe um enorme dragão que atacava aos sobreviventes das águas. Então o santo padroeiro, Senhor do Bonfim, duelou com o monstro, o acorrentou e o prendeu no oco da terra, sob o altar.
Diz a canção ‘que seca sem chuva é ruim, mas seca d’água é pior’. Eu não sei o que a gente fez para viver tal tormento: calor escaldante (pouco falta para o fogo) ou água. Por que não somos iguais ao resto do país? Olha que todo nordestinense é devoto e não dorme sem rezar. Agora deu na tv que os governadores estão em Brasília, aos pés do poder pedindo dinheiro. E isto, senhores, é o que me cora de vergonha! Deus queira que não estejam usando a miséria, como sempre fizeram, para desviarem dinheiro, enriquecerem e mandarem seus parentes para chafurdarem na lama rica ( fumar, cheirar e meter em praça publica) do Primeiro Mundo.
Brasileiros do bem, Policia Federal, por favor, olho nisso. Caso o Lula solte algum dinheiro, ajudem a vigiar para que o dinheiro chegue à finalidade a que se destina, de fato.
Que Deus, mais uma vez, olhe àquele enigmático pedaço de Brasil que outrora parira este grande país. Às vezes o Nordeste me faz lembrar da seguinte situação: um velhinho que criou muitos filhos e agora, na extrema velhice cheia de dependências, é um estorvo que se demora a subir. Pelo sinal da santa cruz...