LETRAS ANÔNIMAS...

O sol já caía, a iluminar os resquícios dum belo dia de outono.

A avenida Paulista, a mais paulista das avenidas da cidade, ecoava um murmúrio nostálgico de tráfego, embora ainda intenso para um já instalado fim de semana.

No restaurante, a maioria das mesas já tilintavam a retirada das guarnições do almoço, e então, como quem já é convidado elegantemente a se retirar, resolvemos pedir o último café, sempre com gotinhas de adoçante para aliviar a culpa da sobremesa calórica.

Saímos de lá a vagarosamente desfrutar da calçada, coisa que há muito já não fazíamos por aqui.

De repente uma livraria!

Numa construção bonita uma longa escadaria nos conduziria ao mundo dos livros...

E ele estava alí, a interceptar todos que lá entravam.

Ao passarmos ofereceu-nos algo que mais parecia um manual fininho, para o qual agradeci, sem prestar muita atenção.

Adentramos pelas páginas inusitadas da grandes novidades, das grandes produções.

Viajamos pelo mundo da informática, de toda essa parafernália da desenfreada tecnologia, e dei graças a Deus por existir livros, que nos fazem transcender a fria realidade.

Na saída, ele novamente nos interpelou.

-Olá, esse é meu livro, produção independente...interessa?

Reneguei essa nossa época de dinheiro de plástico!- pois teria arrematado a edição.

-Um escritor!-pensei com meus botões...inacreditável!

E tão virtual quanto os tostões que eu não tinha ali de imediato, eram também aquelas letras anônimas, que gritavam por atenção, e que desesperadas saltavam dos versos daqueles poemas, a enfeitar o intenso frio do tráfego da avenida...

Dei-lhe um sorriso e prometi a mim que aqui registraria o seu heróico ato...