FLORES À BEIRA DA ESTRADA


          Eram amarelas. Não muitas. Talvez meia dúzia. Meu olhar prendeu-se a elas e, pela velocidade do carro, tudo passou pela mente em poucos segundos. A visão da cena foi mais rápida do que o tempo que levei para entendê-la. Creio ter entendido. Será?

          O sol batia na placa de sinalização. Uma das grandes. Indicava a saída para Jundiaí e Bragança Paulista. À direita, a Serra do Japi. Isso na Rodovia D.Pedro I. Depois das flores vi as pessoas. Eram três adultos. Não pude distinguir bem se eram homens ou mulheres.

          Parece-me que eram dois homens e uma mulher. Revolviam a terra com enxadas. O que vi foi um canteiro de flores. Três pessoas cuidavam de um pequeno canteiro de flores à beira da estrada. Era pela hora do almoço. Não havia ali uma cruz ou mais de uma como sói acontecer nas estradas. Sobraram-me indagações, mas duas delas se sobressaíram. Tratava-se de uma zona urbana. As pessoas usavam trajes simples. Provavelmente eram moradores locais.

          Será que ali estava enterrado algum animal de estimação que morrera atropelado e deixara uma criança triste, talvez doente de saudade, talvez com febre...

          Poderia também ser o caso de alguma senhora idosa, cuja única companhia fosse a de um cãozinho que ela amava e que lhe fazia companhia. Talvez ele tivesse escapado e desorientado, morto ali na estrada. Ela já teria outro, mas pedia para que enfeitassem o lugar onde o bichinho descansava.

          A história poderia ser menos triste. Talvez aqueles moradores parassem ali diariamente para esperar uma condução, um ônibus e preferissem olhar para o seu canteiro de flores, em vez de olhar para a simples grama verde ou outra coisa qualquer, sem graça.

          Acho linda qualquer planta à beira da estrada, com suas flores delicadas, muitas delas bem miúdas, de variados formatos e coloridos. Mas eu venho da cidade. Um simples matinho me agrada. Toda planta que cresce nos barrancos chama a minha atenção, ora pelo formato, ora pelas flores... Gosto de apreciar o capim florido. Capim pode ser uma coisa sem graça, mas na época do outono e no início do inverno, quando está todo florido, tingindo as encostas e os barrancos, com suas cores ondulando ao vento, tem uma beleza que me encanta.

          Quanto ao canteiro, outras hipóteses talvez ocorrerão ao leitor, bem como a mim, porém nunca saberei da verdadeira razão daquele quadro inusitado, retido na memória, visto em minha viagem costumeira para o local onde costumo passar a maioria dos finais de semana. Sob a placa verde, um grupo fazia um canteiro de flores amarelas. Verde e amarelo. Essas são as cores de nossa bandeira. Esse é um retrato de nossa gente.