Com Você
Com Você
Pode acreditar, se você não muda, ou não faz sequer um esforço para isso, vai continuar pastando.
Se você continuar a percorrer os velhos caminhos e sustentar os velhos hábitos, a grama vai continuar crescendo. Pra você.
Se você não olhar para dentro, com firmeza, com discernimento, porque lá dentro existe a esquerda e a direita, e você é a soma dos dois, então saiba: tem de separar o joio do trigo, de uma forma ou de outra, senão você dança. Porque você não é nem o Pelé, nem a Piaf, e muito menos um saco de lixo – você é você. E olhar para dentro também serve para descobrir qual o seu real tamanho, neste mundo, aliás, vasto mundo. Espelhar-se nalgum dos citados exemplos é delírio, e se delirar no pasto você acaba ingerindo até o que não é capim.
Olhar para dentro, além de um pouco de força de vontade para tanto, significa humildade, embora humildade não signifique que você vá engraxar os sapatos dos outros. Humildade significa justamente você se posicionar face ao todo, conhecer o seu potencial e a sua limitação, e ao invés de travar uma batalha com ambos, fazer deles instrumentos.
Para reconhecer suas imperfeições você vai precisar de humildade, nem de mais, nem de menos. A dose certa. E você vai saber a sua.
Daí em diante, cabeça erguida e o coração tranqüilo. Bem tranqüilo. Porque as pedras vão rolar, bem na sua direção. Porque se você entrou no firme propósito de se conhecer, cedo ou tarde você vai notar que o seu conjunto de atitudes, imperceptivelmente a principio, também mudou. O caso é que os outros não, e vão começar a fazer aquilo que eles fazem melhor – julgar.
Nessa altura você está quase longe do pasto e olhando, talvez com espanto, para aquele monte de pedras, com o seu endereço escrito nelas. Dependendo do calendário às vezes dói, mas no fundo você já intui que ninguém faz por mal, só querem o seu bem. Mas...
Agora você já está mais próximo de você e fortalecido(a), sabendo porém que ainda tem chão e se bobear, pasto. Então, NÃO, a sua essência não muda, o que muda, se você quiser, é a comunicação com a sua essência. E essa trilha tem de ser percorrida para ir se descobrindo.
Mais ou menos nesse ponto você se tornou mais seletivo(a) na sua dieta. Você evita as verdes pastagens, que às vezes nem eram tão verdes assim, sendo mais ou menos este o preciso instante em que você percebe o poder do auto-engano, não raro maior que um alqueire, e tenta tranqüilizar ainda mais o seu coração, porque a paz transmite compreensão. Item indispensável para o que se segue.
Aqueles que te jogaram pedras, vão expressar na sua cara: não te admiro mais, portanto não te amo mais.
E agora vem o lance maior, que é quando você diz mentalmente, assim ninguém fica ofendido: Graças a Deus! Porque se as pessoas que estão à sua volta só conseguem expressar amor porque elas tem que te admirar, então: 1. Você estava numa roubada, você já sacou isso, e a porta de saída equivale à porta do céu. 2. Ninguém entendeu nada, e vão continuar rodando a velha manivela e contando mentiras pra si mesmos. E não vai ser você quem vai explicar, porque uma coisa é sacar, outra é se proteger, outra é colocar em palavras. Assim, está tudo certo na sua cabeça, a saída equivale a proteção e as palavras virão com o tempo. Mas você merece uma resposta.
A resposta é simples: você não precisa ser admirado(a) para ser amado(a). Você não precisa fazer o milésimo gol todos os dias ou inventar a Microsoft dia sim dia não para o seu parceiro ou parceira colocar uma medalha no seu peito e manifestar algum afeto. Afeto tem de existir porque você existe e a outra parte também. Só.
Agora afeto você precisa, e dar e receber, sempre, amor idem, e como o afeto, o amor é simples: amor é respeito e confiança. É gesto. É olhar. É toque. É o silêncio gostoso à dois. É o comentário à toa. É o colinho. É o queira ou não queira mas não é o fim do caminho. Porque o fim não existe, porque você não tem fim. Tem reciclagem. Tem ponderação. Tem pausa.
Nesse ponto do campeonato você descobriu que as pedras só vieram porque você finalmente passou a se conhecer, o que significa que aquela velha máscara de zorro já não tem mais sentido, que você a usava buscando a admiração, e assim ganhando um afago, mas agora pouco importa, você já se conhece, e o respeito aos outros e a si mesmo vai se tornando espontâneo e irrefreável, sempre porém guardando a devida proporção, visto já saberes que a vida é cheia de armadilhas, algumas são coloridas, e escorregar faz parte.
Final do episódio: doeu um pouco mas a luz que tem no final desse túnel é mérito seu e no seu peito já não tem soberba ou medalhas, nem rancor e ressentimento.
Tem crédito, que com muito mérito você se deu e aos outros concede sem cobrança, afinal vislumbraste a grande ciência: todo mundo é digno de mérito, ninguém, em hipótese alguma, é melhor do que o outro. O que infelizmente ainda existe são circunstâncias infelizes.
Parabéns! O pasto e todo aquele capim são hoje hilariantes lembranças.
Você está de bem com a vida porque fizeste a melhor coisa que poderia ter feito: olhou para dentro de si.
E está pronto(a) para uma ótima etapa, que de acordo com as palavras de um grande mestre, assim se desenham: é impossível ser feliz sozinho.
E ele, ou ela, vão chegar até você, porque agora você só atrai coisa boa.
Mas lembre-se: a manutenção em você é diária. E isso é sério. Porque, antes de mais nada, quem convive com você,
é você mesmo(a).