MINAS: GOSTO DE MAR
Minas tem gosto de pão de queijo, cafezinho preto e Drummond de Andrade. Não há nada mais saboroso que sentir o queijo derretendo no céu da boca, enquanto os versos do poeta se derramam pelo seu coração.
Todos os caminhos me levam as Minas Gerais. Nunca fui a Itabira, nem procuro a Parságada de Manoel Bandeira em cidades mineiras, mas sou completamente apaixonado por essa terra verde de gente hospitaleira. Já a atravessei de Norte ao Sul e seja em São Tomé das Letras ou em Governador Valadares; o ar carrega versos, o pulmão respira poesia. Vai ver, porque fica lá, a nascente do rio de tantos poetas, ou talvez seja a sua natureza exuberante; mas há arte por todos os lados, até nas conversas com esse povo tão amistoso.
- Onde fica a Rua dos Inconfidentes? – pergunto a um senhor em uma Praça de Extrema.
- Logo ali! – ele responde e volta a cantar os passarinhos.
Em Minas, a distancia é medida diferentemente. “Logo Ali” pode ser na próxima esquina ou á quatro quilômetros. Não adianta insistir, ó Paulista de agenda planejada, em Minas, você precisa explorar e descobrir.
- O senhor pode me dá mais alguma referência? – insisto.
- Nossa Senhora, moço. É fácim! – ele responde – Só uma caminhadinha, anda só mais um bucadim.
Sim, por isso, Minas é poesia. Caminhar um “bucadim” é um convite para se perder entre as igrejas e as casas coloniais. Não há nada mais gostoso que, se você estiver em Mariana ou Ouro Preto, esbarrar num Aleijadinho ou acabar de frente a uma cachoeira.
- Nosso horizonte é belo, seu moço! – diz outro senhor em Tiradentes – É só olhar para frente, que o senhor vai se encontrar.
E encontrei, entre Juiz de Fora e Itajubá, o doce de leite mais saboroso que já provei na vida e a comida, que entre todas desse grande Brasil, é a minha preferida.
- Nossa comida tem gosto de mar – diz uma senhora naquele restaurante dentro de uma vistosa casa colonial.
- Mas vocês não possuem praias – respondo ingenuamente.
- Eu não disse mar, moço, eu disse amar, gosto de amar.
Ah Minas, não vejo a hora de voltar.
Frank Oliveira
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