Amigas, amigas, amores à parte

Estavam num barzinho, vários homens e ela, na terceira rodada de chope. A conversa animada, quando um dos amigos perguntou:

- Você não tem amigas?

- Pô! Tô atrapalhando? – ela devolveu, rindo.

- Não, mané! É que só te vejo com homens... fiquei curioso.

- Claro que tenho. Poucas e ótimas. Só gosto mais de sair com os amigos... Vocês não têm TPM, não assistem novela, gostam de esportes, falam de carros, política e dinheiro, não de roupas, salão de beleza e filhos...

- Sei... Mas nunca teve uma amiga daquelas que não desgrudam?

- Ah! Isso eu tive.

- Conta... como foi?

- Eu tinha uns dezoito anos e fazia teatro. Uma das meninas do grupo, a Fernanda, tinha a minha idade e, em pouco tempo, nos tornamos amigas inseparáveis. Dormíamos sempre na casa uma da outra, andávamos de mãos dadas ou abraçadas pelas ruas, passávamos horas ao telefone quando separadas. Vez por outra, deixávamos bilhetinhos carinhosos na mochila uma da outra...

- Nossa! Não sabia que você já tinha sido sapatão...

Ela riu.

- Bobo! Teve uma vez que estávamos andando na rua, abraçadas e um babaca gritou “sapatão”, da janela, pra nós... Foi engraçado! As duas, ao mesmo tempo e sem combinar, mandaram o dedão pro mané...

- Amizade de mulher só dura até surgir um gostosão no pedaço...

- Sabe que não? Nos apaixonamos pelo mesmo garoto uma vez. Foi o chamado “episódio Fabinho Summer Boy”.

- Fabinho Summer boy!? Isso é nome de traveca!!

- Não sei pra que você pergunta... Vai ficar me zoando...

- Não... desculpa... conta. Fala do traveco, digo, do Fabinho...

- Fábio! Ele era lindo. Cabelos encaracolados na altura dos ombros, olhos claros e a pele bronzeada dos recém chegados das férias, sempre de bom humor. O apelido foi meu irmão quem deu: Fabinho Summer Boy. E, ainda por cima, ele tocava violão. Eu me apaixonei de cara e fui logo contar pra Fernanda. Eu não sei se ela já estava afim também, ou se ela passou a enxergá-lo pelos meus olhos, mas passados alguns dias, ela confessou também estar apaixonada.

- Xi!

- Pois é... Claro que, no início, eu fiquei magoada. Difícil conciliar nossa amizade tão bonita num triângulo amoroso. Mas, ela foi muito madura ao propor que continuássemos amigas e confidentes, e cada uma usaria as armas que tivesse para conquistá-lo. Se ele se interessasse por alguma das duas, a outra teria que aceitar a derrota e tentar superar seus próprios sentimentos.

- Claro que isso não funcionou...

- Funcionou, sim. Nós compartilhávamos confidências sobre ele, eu o chamava de Joãozinho, ela de Pedrinho. Assim, parecia que estávamos falando de duas pessoas diferentes.

- E afinal? Quem ganhou o cara?

Ela riu.

- A Márcia... que também era nossa amiga, sabia do nosso acordo e da paixão das duas pelo cara. Mas, por trás estava só armando o bote... Entendeu agora por que eu não tenho muitas amigas? – e deu a conversa por encerrada, tomando um longo gole de cerveja.