TIMIDEZ

Ele deste lado, ela do outro lado da avenida. O trânsito intenso. Olhos castanhos nos olhos verdes.

-- Gostosinha!

-- Garanto que falou gostosinha. Sujeito vulgar!

-- Tem cinturinha, ventre encolhido, seios pequenos. É virgem. Meu tipo. Não passa de 20 anos.

-- Garanto que acha que sou o tipo dele. Só falta dizer que serei a mãe dos filhos dele.

-- Boa parideira de ancas firmes!

-- Sujeito grosso, me come com os olhos.

-- Pra que essa bolsa grande? Pra que essa bolsa cheia de coisas inúteis? Ali tem de tudo, se bobear tem até jacaré.

-- Ele é um homem charmoso. Será que sabe que levo 60 mil na bolsa? Mesmo que saiba não tem cara de assaltante. Confio nele.

-- Ela é linda! Nessa eu confio. Uma mulher honesta!

O guarda apita e o trânsito pára. Eles atravessam em direções contrárias e passam lado a lado.

-- Boa tarde!

-- Boa tarde!

A timidez de um cumprimentou a timidez do outro.

Ela entrou na concessionária GM, ele entrou na drogaria.

Nunca mais se viram, porque a cidade é grande.

Elysio Lugarinho Netto
Enviado por Elysio Lugarinho Netto em 04/04/2008
Reeditado em 10/07/2008
Código do texto: T931581
Copyright © 2008. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.