Nome de gente

.:.

Coisa complicada é nome de gente! Se pararmos para investigar, encontraremos de tudo um pouquinho: tem filho que traz de batismo a fusão dos nomes dos genitores. Surgem as Carliane (Carlos com Eliane), os Donatos (Dora com Nonato)... Outros mais, recebem, de presente, o nome de ilustres mortos – que vantagem existe em se ter o nome de um morto famoso? Surgem os Lennon, os Kennedy... Outros pais, mais esdrúxulos, resolvem inovar, criando para os rebentos nomes de semânticas geniais. Surgem, então, os Adegobaldos da vida, os Um Dois Três de Oliveira Quatro – a alcunha desse cidadão eu encontrei numa lista de nomes raros. Não sei se ele deveras existiu, mas, certamente, adorava ser chamado de Oliveira! Eu mesmo fui alvo de excentricidade e me puseram por nome algo, pelo menos, estranho que ainda oje me rende inúmeras piadinhas sem graça, claro.

Outra dificuldade, em se tratando de nome de gente, esta encontrada principalmente por desconhecidos, é quanto à grafia. Quem nunca passou vexame na hora de escrever certos nomes? Os mais afoitos perguntam logo: "Como é que se escreve mesmo?" Os tímidos, ah os tímidos, coitados! Usam rabiscos ou preferem não escrever nada, guardando o nome do infeliz mentalmente ou então usando artifícios, associando o nome da pessoa a algo: W. da Chiquinha, W. da faculdade. Há, ainda, os esnobes que, num pedantismo arrogante, exclamam: "É com s-h-i-n-g! É assim que se escreve Washington: W-A-S-H-I-N-G-T-O-N." Esse é do bom! E Wellington? Este nome é outro brabo de acertar! Já vi Veliton, Weliton, Weligton... Qual deles é o certo? ica a indagação.

Em momentos assim, não raramente, ocorrem fatos vexatórios ou engraçados. Certa feita, durante o recrutamento de guarda-vidas (tudo acontece com recrutas!), o tenente instrutor chamou o número de um dos pretensos guardiões do mar. Farei aqui um breve e pertinente esclarecimento para a comunidade civil, posso? Na vida militar, sempre que alguém é chamado pelo número, deve responder com o nome e vice-versa. Exemplo: – Recruta 626? O recruta deve tomar a posição de sentido e responder: – Franklin, senhor! Ou... – Recruta Franklin? – 626, senhor! (o recruta toma a posição de sentido e responde). Continuando. O tenente chamou o recruta:

– 608?

– Sousa/Souza, senhor!

O tenente, mais um com aquela dúvida infeliz que somente nome de gente dá, pergunta:

– Recruta, o seu Sousa/Souza é com 'z' ou com 's'?

O noviço bombeiro, com vibração, toma a posição de sentido novamente e responde de lá, em alto e bom som:

– Claro que é com 's', senhor! Se fosse com 'z', meu nome seria Zousa/Zouza!

Dá pra entender nome de gente?

Nijair Araújo Pinto

Do meu livro 'Lapso temporal'