MEU TEMPO DE SEMINÁRIO

Estudar no seminário, foi uma experiência impar em minha vida. Em 1960, o Seminário de Santa Terezinha era administrado por padres holandeses. Exatamente no dia dezesseis de fevereiro daquele ano, minha madrinha Nadir me acompanhou até lá, Na portaria, vi alguns familiares de outros seminaristas.

Menino encabulado, vindo de uma fazenda no interior do estado, eu me encontrava cabisbaixo e calado. O Pe Cristiano era encarregado de receber os novos seminaristas. Pedi a bênção a minha madrinha e o acompanhei. Subimos uma escada de madeira e ele me levou a um longo corredor no primeiro andar. No final, entramos num dormitório grande, repleto de camas. Havia ao lado de cada cama, um pequeno móvel, com gaveta e uma porta. Ali guardei minhas coisas. Em seguida descemos por outra escada. Demos com uma sala de recreação, onde estavam vários outros colegas recém chegados. Como não conhecia ninguém, fiquei mais perdido do que cego em tiroteio. Havia mesas de ping-ping e outros jogos. Em frente, havia um pátio grande ao lado da cozinha. Pouco à pouco, fui conhecendo o local lúgubre onde ficaria todo o semestre

Havia um sino, que tocava cada vez que iniciava alguma atividade. Ao tocar, todos fazíamos fila no corredor. Mais parecia colégio dos paises baixos. E era. Pelo menos a reitoria e administração eram de lá.

Acordávamos por volta das 5:30 hs para os preparativos da missa. Fazíamos o asseio pessoal, vestíamos a batina, pegávamos o missal e descíamos as escadas, rumo à capela. Sempre caminhávamos naqueles longos corredores, em fila. Depois da missa, havia o café da manhã. Em seguida, enfrentávamos a grande jornada de estudos. À porta da sala de estudos, havia uma palavra, pintada de forma circular no vidro, que nunca esqueci: Silêncio. E, de fato, o silêncio era total. Sempre havia um padre à frente. Tínhamos acesso à grande biblioteca do seminário. Estudávamos na parte da manhã. Ao meio dia, o sino tocava para o almoço. Mais uma vez, formávamos a fila, para irmos ao refeitório. Almoçávamos, ouvindo a leitura de algum livro. Depois do almoço, havia algum tempo para recreação. Em seguida mais aulas, até as 16 horas.

Todas as tardes havia a prática de esportes, depois do chá. O mais preferido, sem dúvida, era o futebol. Depois do futebol, tomávamos banho e íamos para o terço na capela. Em seguida, Silêncio mais uma vez, até as 21 horas. Impreterivelmente neste horário, íamos para a cama, dormir e arquitetar novos sonhos.

Hoje lembro com saudade daqueles tempos bons. Confesso que foi o mais precioso tempo de meus estudos. Muito proveitoso para mim. Basta dizer, que me aprofundei até na língua latina, a mãe da última flor do lácio, inculta e bela.

O aprendizado do seminário, ficou gravado em minha mente, per omnia saecula saeculorum...