...OS DIAS HAVERÃO DE SER MAIS LENTOS...
Os anos estão passando muito rápido, talvez seja apenas a vontade de rir tolamente e a insatisfação com a rotina ou até mesmo a falta de tempo para dedicar um dia qualquer para algo que goste. O trabalho consome quase que integralmente a linha do tempo, e o que sobra de suas energias mal dá pra ir buscar o pão e o leite na padaria da esquina. Segue o mau humor gratuito, o boa noite que oferece ao porteiro do seu prédio mais parece uma ofensa e a culpa é atirada pra cima da noite mal dormida de ontem. Hoje vai ser outra noite em claro, olhando pra qualquer canto no escuro, estalando os dedos ao lembrar das tarefas de amanhã, e nem o fim de semana que se aproxima melhora o ar do elevador que sobe completamente cheio. Domingo é qualquer dia em que se pode acordar mais tarde, e não necessariamente um dia que não se trabalha. Organizar as idéias, tentar romper as amarras das mãos e dos pés que prendem a esse sistema de escravidão que não se entende, pois não há senhor, apenas uma vontade que não é minha de adquirir coisas que não preciso. Os médicos falam sobre o stress e sobre os demônios da neurose que não nos deixam em paz, receitam remédios milagrosos que estampam um sorriso bonito no rosto, e os olhos frente ao espelho embaçado do banheiro após o banho só conseguem ver uma mentira difícil de ser mantida. No calendário a busca pelo dia que seja leve na essência, onde não tenha de ficar de lamentações sobre o estado do corpo, mente e alma. Está ali, com uma anotação em vermelho, mas não passa de outro compromisso inadiável. Ainda haverá um dia que a alegria aparecerá e se espalhará por toda a eternidade, enquanto não chega é melhor me enforcar na gravata e morrer mais uma vez.