Anjo Caído

“Como caíste do céu, ó Lúcifer, tu que ao ponto do dia parecias tão brilhante?” (Isaías 14:12)

Foi por cobiça. A cobiça fez Lúcifer cair nesse mundo. Foi por orgulho. Porque ele sabia que merecia ocupar um lugar mais no alto, mais adequado ao seu perfil.

Quem diz que ele não tinha carisma não imagina o quão sem graça eram os outros anjos. Inteligente, até demais. Não era humilde mesmo, e nem modesto, achava que isso era para os fracos. Talvez esse tenha sido seu maior pecado.

Talvez se fosse um pouco mais humilde ele pudesse reconhecer que haviam outros tão inteligentes quanto ele, embora voltados para outras causas.

Rebelde? Talvez. Precipitado? Bem provável. Porém muito determinado, envolvente, coerente, hábil com as palavras e com as atitudes.

Carismático era uma ótima palavra para descrevê-lo. Pouco a pouco, convenceu outros querubins iguamente insatisfeitos sobre a nobreza de sua causa. Formou uma equipe, mas é mais bonito chamar de horda.

Porém, foi logo descoberto. Os puxa-sacos, nessa hora, sempre levam uma vantagem. Sabem de tudo, porque têm acesso a tudo, espreitam pelos cantos. Difamam. Jogam mais pesado, porém, em geral, ficam com a fama de bonzinhos porque sempre afirmam estar do lado da ética.

O céu tinha um desses, o tal do Miguel. Braço direito do Chefe, engomadinho, todo pomposo lá com seu sabre azul... Mas nem por isso ele era melhor, nem pior, do que Lúcifer.

Miguel também estava lá, entre as cabeças, também queria um lugar de destaque. E quem não quer? Mas ele não teve muitos escrúpulos, não...

Apontou o dedo ao "traidor", meteu-lhe um belo de um pé na bunda e ganhou a fama de gostosão por toda a eternidade. Fez a fama e deitou na cama, ficando conhecido como chefe maior dos celestiais.

É, crianças, nem sempre o mundo é justo, e nem sempre as histórias são exatamente como nos contam.

Vai saber se o tal arcanjo era assim tão boa gente? Só porque era anjo? Anjo por anjo, Lúcifer também não era um deles?

Mas sabem, nem sempre o inferno é assim tão ruim. Ah, não é mesmo...

"...A mente é um lugar em si mesma,

e pode fazer do inferno um céu

e do próprio céu um inferno.

Que importa onde, se serei ainda

O mesmo, e o que deveria ser?

Aqui, pelo menos, seremos todos livres. (...)

Poderemos reinar em paz

e penso que reinar das ambições é a maior.

Ainda que no inferno.

Pois é melhor reinar

No inferno do que servir no céu."

(John Miltom - Paradise Lost)

"Apenas me chame de Lucifer,

Pois estou precisando de um pouco de moderação.

Portanto se você me encontrar

Tenha alguma cortesia,

Tenha alguma simpatia e um pouco de bom gosto.

Use de toda sua bem-instruída polidez

Ou eu destruirei sua alma, sim.

Prazer em conhecê-lo,

Espero que você tenha adivinhado meu nome..."

(tradução de Simpathy for the Devil - Rolling Stones)