O CASO DO DOSSIÊ
Gente, alguém me explique o que está acontecendo com a imprensa deste nosso amado país. Um prestigioso hebdomadário apresentou, na semana passada, uma denúncia grave, relacionada à CPI dos cartões corporativos. O Governo teria montado um dossiê mostrando gastos não muito ortodoxos da gestão anterior. A intenção, segundo a brilhante reportagem, seria chantagear a oposição, ameaçando contar os podres dela também, caso resolvessem se meter a besta com o pessoal do governo atual.
Levei a revista para mostrar ao Seu Afrânio, porteiro de nosso prédio, e lulista fanático. Queria provar, mais uma vez para ele, como o caos e o desmando haviam se instalado definitivamente no Brasil. O humilde serviçal nem se deu ao trabalho de ler a reportagem e foi logo sentenciando:”Isto aí é mais uma armação...”
"A ignorância, realmente, é uma coisa terrível", pensei. Mas sorri com serenidade, do alto da minha convicção de que a verdade não poderia ficar encoberta para sempre. O tempo seria o dono da razão. Ainda bem que tem gente como minha vizinha Dona Lourdes, funcionária-chefe de gabinete da Assembléia Legislativa há vinte anos, plenamente consciente da verdade e que sempre alertou para o perigo de nossa nação ser governada por alguém que não tivesse ao menos feito uma faculdade. Que nem o filho dela, o Guilherme Lucas.
Mostramos para o Seu Afrânio a indignação de várias autoridades pelo ato deste governo, que não respeitou os cânones constitucionais ao mostrar atos privados do casal governante anterior. Foi revelado, por exemplo, que a ex-primeira-dama havia usado o cartão corporativo para comprar ingressos para a Ópera. “Sinal que ela tem gosto”, respondeu nosso velho controlador de acessos, revelando um inimaginável conhecimento da arte do canto dramatizado.
Mas eis que agora o Seu Afrânio está impossível. Sempre nos vê – a mim e Dona Lourdes - ele dá um risinho de deboche. Isso desde que a tevê mostrou um certo senador da oposição revelando que ele teve acesso antes ao tal dossiê, e que fora ele a fonte utilizada para a tal reportagem. E o pior é que vem sempre com aquela conversa irritante de “doutor, o senhor que sabe das coisas, me explica isso”. Estou pensando que realmente precisamos de um porteiro novo.