Roupa suja se lava em casa

"Roupa suja se lava em casa"...(expressão usada quando alguém briga na frente de estranhos).

Nos anos sessenta eu já ouvia minha avó dizer isto, embora na época não compreendesse muito bem o significado desta expressão popular.

Há cerca de um ano toda semana esta expressão vem à minha cabeça.

Sempre tive um pé na lavanderia. Quando ainda morava no Brasil e ainda podia desfrutar da delicia de se ter uma secretária do lar, eu sempre dizia a elas: “A roupa eu lavo". Passar, nunca gostei e muito menos limpar casa.

Com o passar dos anos e mais conhecimentos esotéricos, achei por bem eu mesma fazer tudo isto. Estaria energizando minhas roupas e de meus filhos; estaria energizando a minha casa, a comida que faço para minha família.

Eu nem sabia que era adorável lavar as roupas e secar ao sol no quintal. Hoje sei o quanto tudo isso faz falta. Aqui se lava roupas na lavanderia do prédio; marca-se uma hora para usarmos a lavanderia.

Às vezes eu ficava irada quando não conseguia fazer a máquina funcionar. Meu companheiro quer lavar tudo correndo e de qualquer jeito, e eu quero lavar devagar, com carinho, dobrando certinho. Prefiro ir só (aqui os homens dividem serviços domésticos com as mulheres, assim como elas dividem a metade das despesas da casa).

Aqui há pessoas que tentam entrar na lavanderia no último instante e ainda ocupa o espaço de outras. "Pegam o bonde andando e ainda querem ir na janelinha".

De vez em quando eu presencio na lavanderia cada "barraco" e fico pensando que se acontecer comigo, o que faço? Não falo sueco... Se duas pessoas conversam, entendo 50%, mas se falarem comigo não compreenderei nada.

Bom, foi o que aconteceu hoje num barraco do qual eu fazia parte. Cheguei no meu horário e as máquinas a mim reservadas estavam ocupadas. Elas haviam sido ocupadas naquele instante e a dona das roupas voltara pra casa. Ao chegar, meu desapontamento: Olhei e todos eram estrangeiros, e falavam sueco, menos eu.

Uma chilena veio falar comigo. Eu perguntei: "Hablas en español?".

Ficou bom, porque eu quase entendo a língua e poderia praticar o meu espanhol. Ela tomou as minhas dores e parou as máquinas, tirou as roupas da mulher e falou pra eu colocar as minhas.

Sempre coloco as roupas e volto pra casa e hoje achei por bem ficar lá, porque a dona apareceria e poderia fazer o mesmo comigo. Achei uma violência da chilena, consentida por mim, mas, também, eu tinha sido vítima de uma violação de horários.

A dona das roupas chegara e já foi gritando e olhando para mim. Fiquei parada, porque só tenho tamanho, e briga não faz parte do meu show.

A chilena gritou, esbravejou, mas tudo ficou bem no final. Ela fora embora e me deixara com a dona das roupas, que eu suponho ser uma cigana.

Tenho máquina de lavar em casa e lavo as roupas pessoais. As de cama e toalhas, na lavanderia, carregando este peso pela rua - eu imagino as lavadeiras que lavavam roupas nos rios... E esta expressão me martelando a mente: "Roupa suja se lava em casa".

Tenho que secar a roupas em cabides perto dos aquecedores. Um amigo que conheci aqui na Suécia me disse que roupas não devem ser secas viradas para baixo porque a vida da pessoa vira de ponta-cabeca. Não sou supersticiosa, mas, se me falam essas coisas, acabo fazendo. Verdade ou não, depois disto alguns setores da minha vida andam melhorando.

Literalmente a roupa suja se lava em casa...

Com carinho

Gisaonline

Stockholm, 3 de abril de 2008.

gisaonline
Enviado por gisaonline em 03/04/2008
Reeditado em 08/02/2014
Código do texto: T929344
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