Seqüestro...
O calor, naquela manhã, passava dos 20 graus, eram 10 horas da manhã, a pequena cidade que sobrevivia da pecuária e da agricultura começava mais um dia de trabalho.Corria o mês de abril de 1971. O Doutor Alan, foi para casa descansar do plantão que dera no único hospital. Tinha sido uma noite tranqüila. Dr. Alan, gostava de assoviar músicas sacras. Estava feliz. Quando chegou no portão de sua casa, tinha ido a pé, o trajeto até a sua casa era curto, e ele gostava de andar a pé. Passou pela caixa do correio para apanhar a correspondência. E no meio da correspondência. Cartas, cartões, correspondências bancárias. Um bilhete, escrito em folha de caderno com caneta esferográfica dizia: “Dr. Alan, meu pai está precisando de dinheiro, e eu sei que o Sr, tem muito. Se não levar dez mil cruzeiros, hoje à tarde no cemitério, uma de suas filhas sofrerá as conseqüências!”
O médico levou um susto. “Quem seria?” Dr. Alan sempre trabalhou muito, sempre economizou, ele é descendente de árabes. Agora um marginal ameaçando suas filhas. E tentando levar suas economias. Pensou muito mas levou o caso à polícia. Esta por sua vez, com falta de habilidade no assunto seqüestro, deixou vazar a notícia. E toda a população ficou sabendo do fato. No bilhete havia ainda a hora e o túmulo de quem deveria deixar o dinheiro. Quando o médico pegou o dinheiro numa sacola e foi até o cemitério, seguiram-no mais de 500 pessoas. Uma passeata enorme que chegaram até estragar o alinhamento das sepulturas. O Povo acotovelava-se sobre o doutor. O médico foi para ver, poderia ser uma brincadeira. Mas deu meia volta e veio para casa. Mais nervoso do que antes. Noutro dia outro bilhete: “Vocês contaram para a polícia, agora a coisa piorou, quero esse dinheiro hoje à noite no campo de futebol!” Dessa vez a polícia guardou sigilo. A hora marcada eram 19 horas. À boca da noite. Quando escureceu lá foi o médico com uns soldados. Há uma escola em frente ao campo. E havia aulas à noite. Mas ninguém percebeu. Havia chovido e ventava um pouco. A noite estava muito escura. O médico entrou no campo com o dinheiro esperando encontrar logo ali o indivíduo.
Nessa altura as autoridades consultaram cadernos de alunos, e com um técnico, já se sabia até de quem era os bilhetes. Ele era aluno da escola que ficava próximo ao campo. Conta-se que ele ria muito dentro da escola.
Voltando ao campão, entraram dois soldados com o médico e outros dois correram para o fundo do campo, esperando o indivíduo passar. Mas não sabemos porque cargas d’água, um soldado disparou o revólver. E os outros dois do fundo atiraram nos soldados da frente. Tramou-se um tiroteio. Sorte que ninguém acertou ninguém. O menino ria lá de dentro da escola.
Noutro dia Valdir, o arquiteto do plano, foi detido para averiguações. Disse que o pai um senhor de idade, dono de um barzinho falido, passava por sérias dificuldades financeiras. O médico chegou até a conversar muito com o garoto. Ajudou-lhe financeiramente e ficaram amigos.
Mais tarde esse menino aprontou de novo em uma emboscada que também registramos nos nossos relatos.
Theo Padilha