Sintagmas Esprimidos
Resolvi sentar-me ao computador, estender as mãos sobre o teclado e ver no que dá. A cabeça completamente nula, divaga, sem condições nenhuma de racionar ou formular um pensamento coeso, coerente, bonito, contendo começo meio e fim. Decidi verificar como sai um texto quando não se quer, quando não se pretendo, quando não se tem nada para dizer...
Cuido que escrever é como fazer amor. É muito prazeroso fazer sexo com algumas pessoas, que muitas vezes não são nenhum estereótipo de beleza, mas que me faz ferver o sangue. Há também pessoas que me cantam, me apertam, e, pulo fora... E são consideradas bonitas e por isso se decepcionam com o não e botam indiferença.
Adoro escrever, alias, minha maior tara é escrever. Estou até triste porque ando atarefado, sem tempo de começar meu novo romance que se chamará A Curva do Rio. Na verdade, já o iniciei. Mas, as primeiras páginas foram parar no lixo eletrônico ou serviram de remendo para outros textos.
Ando muito ocupado com a leitura (obrigatória) de Memórias Póstumas de Brás Cubas para o término de um módulo de Especialização em Literatura e Língua Portuguesa e outra matéria (coesão e coerência) ministrada por um professor reticente que anda atarefadíssimo, não prepara a aula e me aflige sobremaneira. Leituras e mais leituras nos últimos dias e eu queria mesmo era escrever, escrever... Nem sempre se trepa aonde se quer.
Minha cabeça parece oca, desesperançada... Tonta, tola como a de Brás Cubas. Fútil como a vida deste que nada acrescentou ao meio enquanto vivo. Felizmente, depois de morto teve a idéia de escrever um romance que se agüentou até a metade... Depois entra em franca decadência e o escritor se desdobra para emendar argumentos correlatos. Afinal, há que se manter a fama, o nome...
Agora vou à crônica que nasceu de solo árido, sertanejo, catingueiro, seco como o sertão onde nasci... Se bem que ontem vi um vídeo, na internet, que desmente isto: as águas do rio Salgado, nas margens do qual nasci, invadem Icó, a linda e secular Terra do Louro.
Eis o que saiu quando a cabeça se achava inteiramente vazia. Propus-me o desafio de colocar os dedos sobre o teclado e somente tirá-los quando houvesse uma quantidade de sintagmas suficientes para serem considerados ou confundidos com uma crônica. Amanhã estará no Recanto das Letras tal qual foi produzida, sem tirar, nem por...
Agora vou banhar-me e depois me deitar, peladinho, na minha cama fofinha. Ah, antes navegarei pelos canais de tv que, como sempre, não terá nada de interessante. Não dá a impressão de que a rapadura inteira que me adoçava a alma está por menos da metade?