O Gato (humor - causo)
Os automóveis passavam muito perto e ela, asustada, freava a bicicleta a toda hora. Ele, pedalando atrás dela e temendo bater-lhe na traseira, o que certamente provocaria suas quedas no meio da pista movimentada, procurou dar uma distância maior. Ainda mais insegura por percebê-lo longe, ela reduziu a velocidade. Desse jeito, não chegariam em casa nunca e ele resolveu ultrapassá-la. Seguindo à sua frente, poderia ditar o ritmo do passeio e talvez ela se sentisse mais confiante, ao perceber que os carros, afinal, não passavam tão perto assim.
Realmente, tudo passou a funcionar bem melhor deste modo por algum tempo.
No final da descida, por ser mais pesado, ele acabou por afastar-se. De repente, após a passagem dele, um gato saiu do meio do mato e resolveu cruzar a pista, à frente dela. Ela fez os cálculos e percebeu que bastava reduzir um pouco o ritmo para passar exatamente por trás do bicho. O que ela não esperava é que o bichano ao vê-la, travasse o passo e arrepiando-se todo, arqueasse a coluna, convertendo-se num perfeito quebra-molas. Nunca pensou que um animal capaz de amolecer todo o corpo para atravessar aberturas inacreditavelmente pequenas pudesse transformar-se, em segundos, num obstáculo tão vigoroso. E descobriu seu engano da pior forma possível, chocando-se contra ele e voando, com bicicleta e tudo, alguns metros para dentro da pista movimentada, onde se esborrachou sem nenhuma classe. Pior, sem chance de defesa, caso algum carro viesse.
Para sua sorte, o carro que vinha, ainda estava a uma distância e velocidade seguras e conseguiu evitar o atropelamento. Encostando seu veículo a poucos metros dela, o motorista desceu para ajudá-la, assim como motoristas e passageiros de outros carros. Num instante, alguém a levantou, verificou se estava machucada, se poderia prosseguir, outro desamassou a roda da bicicleta, desempenou o pedal. Ela agradeceu a todos e retomou seu caminho. Os joelhos e braços lanhados, a moral arranhada.
O marido, a esta altura, estava uns quinhentos metros adiante. Não viu nada. Parado a um canto da pista, a esperava impaciente. Quando ela se aproximou, perguntou-lhe:
- Ué!? Onde você estava?
- Caí! - foi o que respondeu, sem deter-se.
E prosseguiu o caminho sem dirigir-lhe mais a palavra, até chegarem em casa.
Só conseguia pensar, com rancor, que o maldito gato desaparecera de volta no mesmo mato de onde saiu. Por causa dele, estava toda machucada, por causa dele, estava zangada com o marido, por causa dele poderia ter morrido. Desejou mesmo tê-lo matado. Mas o cretino nem lhe deu o gostinho de ficar algum tempo estrebuchando no meio da pista. Evaporou, lépido e fagueiro. Provavelmente, sem uma única costela quebrada, sequer uma dorzinha na lombar.
Depois do banho tomado, remédios aplicados e pazes feitas com o marido, ela ponderou: tomara!
Os automóveis passavam muito perto e ela, asustada, freava a bicicleta a toda hora. Ele, pedalando atrás dela e temendo bater-lhe na traseira, o que certamente provocaria suas quedas no meio da pista movimentada, procurou dar uma distância maior. Ainda mais insegura por percebê-lo longe, ela reduziu a velocidade. Desse jeito, não chegariam em casa nunca e ele resolveu ultrapassá-la. Seguindo à sua frente, poderia ditar o ritmo do passeio e talvez ela se sentisse mais confiante, ao perceber que os carros, afinal, não passavam tão perto assim.
Realmente, tudo passou a funcionar bem melhor deste modo por algum tempo.
No final da descida, por ser mais pesado, ele acabou por afastar-se. De repente, após a passagem dele, um gato saiu do meio do mato e resolveu cruzar a pista, à frente dela. Ela fez os cálculos e percebeu que bastava reduzir um pouco o ritmo para passar exatamente por trás do bicho. O que ela não esperava é que o bichano ao vê-la, travasse o passo e arrepiando-se todo, arqueasse a coluna, convertendo-se num perfeito quebra-molas. Nunca pensou que um animal capaz de amolecer todo o corpo para atravessar aberturas inacreditavelmente pequenas pudesse transformar-se, em segundos, num obstáculo tão vigoroso. E descobriu seu engano da pior forma possível, chocando-se contra ele e voando, com bicicleta e tudo, alguns metros para dentro da pista movimentada, onde se esborrachou sem nenhuma classe. Pior, sem chance de defesa, caso algum carro viesse.
Para sua sorte, o carro que vinha, ainda estava a uma distância e velocidade seguras e conseguiu evitar o atropelamento. Encostando seu veículo a poucos metros dela, o motorista desceu para ajudá-la, assim como motoristas e passageiros de outros carros. Num instante, alguém a levantou, verificou se estava machucada, se poderia prosseguir, outro desamassou a roda da bicicleta, desempenou o pedal. Ela agradeceu a todos e retomou seu caminho. Os joelhos e braços lanhados, a moral arranhada.
O marido, a esta altura, estava uns quinhentos metros adiante. Não viu nada. Parado a um canto da pista, a esperava impaciente. Quando ela se aproximou, perguntou-lhe:
- Ué!? Onde você estava?
- Caí! - foi o que respondeu, sem deter-se.
E prosseguiu o caminho sem dirigir-lhe mais a palavra, até chegarem em casa.
Só conseguia pensar, com rancor, que o maldito gato desaparecera de volta no mesmo mato de onde saiu. Por causa dele, estava toda machucada, por causa dele, estava zangada com o marido, por causa dele poderia ter morrido. Desejou mesmo tê-lo matado. Mas o cretino nem lhe deu o gostinho de ficar algum tempo estrebuchando no meio da pista. Evaporou, lépido e fagueiro. Provavelmente, sem uma única costela quebrada, sequer uma dorzinha na lombar.
Depois do banho tomado, remédios aplicados e pazes feitas com o marido, ela ponderou: tomara!