AS NOVAS FOLHAS DO PÉ DE ALFACE

AS NOVAS FOLHAS DO PÉ DE ALFACE

Marília L. Paixão

Primeiro você está solteira. Vem o dia em que você se casa. Muda de casa. Mudar de casa é ótimo! Leva junto um monte de planos e sonhos. Seu companheiro de sonhos parece um sonho e foi por isso que você se casou.

Breve o sonho muda de cor! Normal! Até os sonhos das padarias mudam de um dia para o outro. Você olha para ele e não sabe se ta afim ou não. Mas do seu companheiro você continua afim, claro! Nem sempre tão claro, mas você diz correndo que sim! Claro!!!

Ninguém se desapaixona depois de um dia ou dois. Mas e depois de um ano?! Isso tudo é muito relativo. Há casamentos que só despencam depois de uns cinco anos e outros podem durar uma vida inteira belamente festejando pratas e diamantes.

Outros passeiam entre bananas e abacaxis numa forte tentativa de pelo menos um respeitar o outro. A maior dor de um casamento pode bem ser um chifre. Ficou feia essa palavra no meu texto, não ficou? Vou tirar! No lugar vamos colocar só uma puladinha de cerca ou duas? Não.. Também não! Desse jeito meu texto vai ficar pobre. Melhor usar a palavra tradicional: Adultério. Pronto! Melhorou? Pode ter melhorado, mas dói tudo igual. Não, nunca me aconteceu, mas já sofri antecipadamente pensando que tinha acontecido. Quer pior que isso?!

Mas não estou aqui para falar de mim. Entendo um pouco da coisa por já ter estado do outro lado. Se eu já traí?! Já!!! Não foi uma experiência boa... Quero dizer... A de fazer alguém sofrer. Nunca é... Mas por outro lado foi tudo tão inevitável! Péssima também é a experiência de se desculpar, se arrepender... Nada adianta nada mais se salva e você nunca é perdoado.

Você pode se rastejar. Pode conquistar novamente a pessoa, pode achar que a ama como antes ou que essa pessoa te amará como sempre. Tudo engano! Você se faz de novo. Você quase se recria. A pessoa tenta te ver da mesma velha forma e também não consegue. Vai ter sempre uma hora que te xingará mil vezes, que te cobrará mil vezes e o desrespeito ao novo relacionamento entornará por tantas vezes. O belo não é mais belo por não ser mais confiável. A pessoa que foi traída vai sempre se sentir insegura e a que traiu também não será mais admirável.

Há uma perda irrecuperável. Não se conserta desencantos. Mas é impossível tentar sobreviver? Não! Claro que não! Tudo depende das fases, do amadurecimento. Jovens jamais dariam conta de um remendo destes! São inúmeros os fatores que influenciam uma tentativa de reconciliação. Os mais fortes ganham os nomes dos filhos. Os mais frágeis, de uma certa dependência.

Na medida em que vão aumentando os números dos casais que sofrem deste desgaste, muitos outros caminhos vão surgindo. Surgem opções diversas de estilo de vida. As pessoas mais antigas optavam por ficarem sozinhas, pelo menos as mulheres. Pareciam que achavam decente manterem-se solitárias e achar que arrumar um outro homem seria para quê? Se a raça era toda ruim!

Hoje já não é a raça. Hoje são as situações! Hoje as mulheres colocam a culpa é na safadeza das próprias outras mulheres. Os homens vão perdendo a culpa e a traição da parte deles vai se tornando quase normal dependendo da situação. Mas as esposas da atualidade também já não são bobas! Elas também ficam expostas a outros assédios e se ela cismar que ganhou um chifre ela pode lhe presentear com dois! Desculpe! Tornei a usar a palavra errada.

Vamos trocar essa palavra chifre, tão dolorosa por uma nova. Uma palavra mais bonita!

Pode ser affair? Melhorou, não melhorou?! Não é nova, mas é rica. Parece coisa só de gente fina. Se fosse só a elite que traísse, né?! Para os mais bem resolvidos financeiramente, tudo é mais fácil. Será? Imagina o sofrimento de uma mulher traída e semi-analfabeta com sete filhas? É... sobram gritos e vassouradas. Sobram lágrimas e mais lágrimas. A dor vai virando uma dor amarga.

Os que não sofrem de tudo isso conseguem dar doçura para os filhos. Os mais cultos ou mais equilibrados conseguem chorar e abraçar muito os filhos. O bandido não lhe tira o amor com a dor e o amor abraça ternamente os filhos, o melhor fruto daquela união. Estes são acalentados com a dor do amor que sobrou. Se tornam cúmplices do sofrimento as criaturas maravilhosas. São os salvadores do barco no temporal da vida. Mas a vida é mesmo fértil! E a família, responsável pelos maiores valores de uma sociedade, tenta se erguer lutando por suas fronteiras do bem me quer ou mal me quer. Mas sabendo do que deseja e acredita.

Felizes são os que se recuperam e infelizes são os que não se costuram e não se encontram capazes de recomeçar sequer ao lado de outra pessoa. Será que estes ficaram com a felicidade perdida para sempre? Será que dependendo da forma que um sonho sai lesado do seu lugar sagrado, ele jamais volta a interagir por outros rumos? O que faz um ser perder de vez os sonhos e a esperança de casar-se de novo, primeiramente com o fato de renascer-se mais feliz ou mais bem disposto para com a vida enfrentar novos gostos?

Cada vez mais é necessário que o ser se admire. Que se encontre e se ache belo. Achando que não, o jeito é tratar de achar quem ache! Pois neste caso a solidão ampliaria a falta de beleza. Pode até ser uma questão de baixa auto-estima. Vá por mim que escolho terminar este texto com uma frase velha, com aquele ditado de que cada um encontra seu pé de chinelo. É importante não deixar quebrar seu pé de alface. Mesmo você não enxergando bem, há tantas folhas belas...

Marília L Paixão
Enviado por Marília L Paixão em 03/04/2008
Reeditado em 03/04/2008
Código do texto: T928787
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