Vou-me embora, embromadora

Ficou um vazio, assim, um silêncio. Como se aquelas palavras me preenchessem. E preenchiam, de certa forma. Mas não sei mais dizer se da maneira mais certa, da mais válida. Eram só palavras, afinal. E elas são mesmo assim, quando sabemos quais escolher e onde colocá-las.

Eu sei muito bem como fazer isso também. Construir castelos de palavras. As paredes sobem sozinhas, enfeitadas dos mais ricos balaústres, ornamentadas. Sobem torres, pilastras, parapeitos, belos conjuntos arquitetônicos. Elas assumem os significados mais amplos e variados. Tocam, encantam, agradam. Mas ainda assim não deixam de ser só palavras.

Eu tenho tantas dúvidas ainda, estou tão confusa, mas esse é o meu momento agora, e daqui a cinco minutos pode tudo estar mudado, revirado, e uma linda flor nascendo novamente, em meio às ruínas do castelo destroçado.

"Amor perfeito

Amor quase perfeito

Amor de perdição, paixão que cobre

Todo o meu pobre peito pela vida afora

Vou-me embora, embromadora

Você para mim agora

Passa como jogadora

Sem graça, nem surpresa

Diga que perdi a cabeça

Se eu me levantar da mesa e partir

Antes do final do jogo

Louco seria prosseguir essa partida

Peça falsa que se enraíza

E faz negro todo meu desejo pela vida afora

Vou-me embora, embromadora

E quando eu saltar de banda

E quanto eu saltar de lado

Vou desabar seu castelo de cartas marcadas

E tramas variadas

Sim

Seu castelo de baralho vai se desmanchar

Desmantelado

Decifrado

Sobre o borralho da sarjeta

Chegou o inverno!"

(Dona De Castelo - Jards M./ Waly Salomão - Adriana Calcanhoto)