Miserável no breu

A rua ia deserta, calma, mal iluminada. Havia uma panificadora mais à frente, fechada. Há alguns metros, um bar, escuro. Postes fracos. Só grilo às nove horas.

Hermes passava feliz pela rua, de forma que só notou que ela vivia sem luz quando viu um monte, um objeto, uma coisa no chão e não distinguiu o que era. O coração acelerou, mas logo viu (menos mal!) que não era cachorro.

Pela forma, pela cor, era alguém deitado. Mas deitado ali? Aproximava-se e não era outra coisa senão uma pessoa deitada.

- Miserável -, pensou Hermes.

Era um só. Não mexia nada.

Pensou que estaria com frio. Com fome, provavelmente. E estava só. E talvez Hermes tenha pensado alto demais. Talvez até o homem tenha ouvido. Ou era mulher?

Continuava deitado e não se mexia. Dormindo, claro. Ou morto? Desacordado, bêbado, fingindo-se assim para assaltá-lo?

Para assaltá-lo.

O coração voltou a andar rapidamente. O coração marchando velozmente.

Passou pelo marginal sem respirar.

O barulho dos grilos aumentara. Era só grilo: olhou para trás. Um saco de lixo.