VODKA COM LARANJADA !
Tenho inúmeros defeitos. Inúmeros não, incontáveis. Em compensação tenho pouquíssimas virtudes e de duas delas cultivo imenso orgulho.
A primeira : possuo uma enorme facilidade para esquecer (e em alguns casos, simplesmente abafar) as bobagens , tolices e por assim dizer, os grandes micos da minha vida.
O utra grande virtude é a de ser considerado fraquérrimo para bebidas alcoólicas (certa vez fiquei meio tonto só com o cheiro da cachaça enquanto preparava uma caipirinha).
Esta segunda revelação talvez surpreenda minha meia dúzia de leitores, considerando-se que em várias crônicas menciono um barzinho que tenho o hábito de freqüentar. Freqüentar um barzinho não significa necessariamente que eu seja bom de copo. Ao contrário, como já disse, sou fraquérrimo para bebidas alcoólicas e às vezes , motivo de piadas.
Ontem, quando voltava para casa depois de um duro dia de trabalho lembrei-me de um fato acontecido há muitos anos, na época que ainda era jovem, solteiro sem compromisso, com carteira de identidade nova e que cabelos brancos (minha neta diz que são prateados) era algo que não passava pela minha cabeça (entenderam a ironia ?).
Era a primeira festa de fim de ano no meu primeiro emprego e naquela firma, era hábito tradicional os funcionários reunirem-se no escritório na ante-véspera do Natal. Seria uma festinha simples, tipo alguns salgadinhos comprados horas antes na padaria da esquina, algumas garrafas de refrigerante, troca de presentes, abraços e depois cada um para sua casa.
Depois da troca de presentes , quando o gerente geral já tinha ido embora, uma das colegas tirou do seu esconderijo secreto (que ficava dentro da sua gaveta) uma garrafa de vodka, com a desculpa de que precisava de estímulo para iniciar um sério combate a sua depressão crônica.
O grande problema é que o refrigerante já tinha acabado, os salgadinhos estavam murchos e frios e tomar vodka pura é dose muito forte.
A questão foi rapidamente resolvida pois milagrosamente surgiu do esconderijo da minha colega meio litro de suco de laranja, sem açúcar. Quem pensou que houve premeditação, acertou em cheio. A primeira rodada da deliciosa mistura foi servida para cinco pessoas, a dona da vodka, eu, dois colegas e minha chefe, uma quarentona solteira.
Brindamos as coxinhas de galinha que foram os salgadinhos mais consumidos. A segunda rodada de brindes, para que não houvesse ciumeira, foi para os quibes que apesar de frios estavam muito bons. Para não fazer feio eu acompanhava os outros quatro, até então sem nenhum problema porque meus drinques eram de laranjada com vodka e não o contrário.
Só que aconteceu o pior, a laranjada acabou, três dos parceiros desistiram dos brindes e ficou sob a minha responsabilidade e a da dona da garrafa consumir o restante da vodka. Relembrando os fatos, me arrependo amargamente de ter concordado em tomar meio copo de vodka pura, principalmente naquela infeliz brincadeira do “vira-vira”.
Alguns minutos depois apaguei completamente, e só me lembro de ter acordado no dia seguinte por volta do meio dia, com uma dor de cabeça insuportável e vestido com uma roupa que eu nunca tinha visto na minha vida. O ambiente também era estranho tipo quarto diferente, cama diferente, janelas fechadas com cortinas diferentes.
Senti um cheiro forte de temperos e de cebolas fritas e comecei a ter um pequeno enjôo. Tentei me levantar e desisti pois por incrível que pareça o quarto parecia girar como se fosse um pião. Me escorei na cama, respirei fundo e consegui sair do quarto e qual não foi minha surpresa ao verificar que estava na casa de um dos colegas.
Muito assustado, perguntei onde estava, o que tinha acontecido, se eu tinha feito alguma bobagem e outras dúvidas e preocupações desse tipo. Meu colega deu uma barulhenta gargalhada, chamou a mãe para que eu pudesse ser apresentado, ofereceu-me uma xícara de café quase sem açúcar e começou a contar os fatos como aconteceram.....
..............virei meu copo de vodka pura de uma só vez e engoli aquele líquido quente e de gosto horrível sem reclamar. Afinal, era uma disputa. Minha colega, a dona da garrafa, já estava deitada em cima de uma das mesas completamente apagada. Vendo aquela cena fiquei indignado e decidi cantar uma música para despertá-la. Não deu resultado, primeiro porque canto muito mal e segundo porque minha colega dormia a sono solto e então , tropeçando nas próprias pernas percebi que minha chefe estava sentada perto de uma das janelas, provavelmente imaginando como poderia sair daquele embrulho. Supondo erradamente que estivesse aborrecida, resolvi fazer para ela uma sentida declaração de amor (soube mais tarde que foi uma cômica declaração de amor) , inclusive sugerindo que nosso casamento fosse marcado para depois do carnaval. Meu colega percebendo o risco da mulher aceitar minha proposta, sob meus indignados protestos resolveu arrastar-me para a rua, jogar-me no banco traseiro de um táxi e fazer a caridade de levar-me para sua casa, onde depois de um banho frio e fortes doses de café sem açúcar conseguiu convencer-me a dormir no seu quarto.........
A crônica termina como começou : tenho enorme facilidade em apagar da memória as tolices, as bobagens e os grandes micos da minha vida...
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(.....imagem google.....)