CURIOSIDADE MATA

Eu acho interessante o quanto as pessoas são curiosas. Ainda bem que acabou o BBB 8, pois esse programa só dá certo em razão desse gostinho sombrio que muitas pessoas aguçam como forma de tornar escancarado algo que deve manter-se escondido e bem protegido aos olhos alheios.

Ocorre que as pessoas querem ver aquilo que não pode ser visto e talvez por essa razão esse último programa não obteve o sucesso de outros, porque não ocorreu sob as quatro paredes, ou sobre os lençóis, aqueles lances que afrontam os costumes e sempre desperta a curiosidade.

Algumas vezes vejo um conglomerado de pessoas nas ruas e fico me perguntando, será que aquele “homem da cobra” que chama tantas pessoas para um fato, mas que quer mostrar outro, não ficaria desapontado se as pessoas não parassem – por curiosidade – para ver o que está acontecendo?

O mesmo se diga quando acontece um acidente quando as pessoas se juntam no local e muitas vezes até atrapalham a operação dos bombeiros, apenas porque querem satisfazer os olhos, pois muitos não têm a mínima intenção de prestar um socorro, ou algo assim.

Creio que as pessoas devem ser um pouco menos egoístas, pois essa invasão da privacidade alheia, a meu ver, supera seu limite de cidadão que deve ser respeitado na sua individualidade, para ingressar numa encruzilhada que fica indigesta quando ultrapassa a linha divisória do meu direito para influir no direito alheio. Os cidadãos têm seus direitos preservados, mas também possuem seus deveres. Quem gosta de olhar o muro alheio para ver o que o vizinho está fazendo, corre o risco de também ser observado ou no muito, dá ensejo para que outrem também faça o mesmo com ele.

Lembrei-me deste tema porque hoje estive analisando um processo criminal onde a vítima morreu porque foi curiosa. O fato: Havia um supermercado ao lado de seu muro. Assim, num determinado dia os larápios resolveram fazer uma visita nesse estabelecimento comercial e a vítima, por curiosidade, vendo alguns barulhos pegou sua lanterna e foi ver o que estava acontecendo pessoalmente e ao invés de ir preparada para qualquer desiderato, avisando a polícia, indo armado etc., simplesmente apossou-se de uma lanterna e focou nos olhos do ladrão, que tendo uma arma só desferiu o tiro de misericórdia rumo ao portador do facho luminoso.

Pergunta: Esse gesto, por mais nobre ou corajoso que fosse não se compõe dentro de uma ação de cautela que se exige hoje em nossa sociedade repleta de bandidos por todo lado? Evidente que fica até constrangedor depois do trágico acontecimento, direcionar alguma culpa para a vítima. Mas, convenhamos que ela deveria ter agido de uma outra forma, pois os anúncios das autoridades são até repetitivos para que as pessoas não se lancem como heróis, pois os bandidos estão muito mais preparados e suas ações são bem planejadas, conquanto o cidadão atacado não conta com nada, mas só com sua sorte.

Não há dúvida que o bandido foi condenado por latrocínio com pena máxima. Mas, isso não traz o retorno da vida para os familiares. Aquele gesto impensado causou só o sofrimento para todos.

Decisivamente, não vale a pena ser curioso, não só para preservar nossa defesa, como também para preservar a privacidade dos outros.

Machadinho
Enviado por Machadinho em 31/03/2008
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