Inculta, bela e... complicada!

Seria razoável que os letrados tivessem olhos complacentes para os textos produzidos por leigos em nossa língua pátria. Há que se ler bons autores a vida toda, e se der ainda um pouco mais, para que cometamos o mínimo aceitável de erros quando escrevemos. Claro, pois nossa língua não é flor (do Lácio) que se cheire, em matéria de truques. Passa a impressão de que quem bolou o português estava num daqueles dias de piadista, querendo dar umas risadas à custa da inexatidão alheia. Valei-me, meu São Pasquale!

Justifico: além das nossas clássicas e velhas conhecidas “concerto” e “conserto” ou “viagem” e “viajem”(que pesquisei: chamam-se “homônimos homófonos” – por favor, os professores de português me corrijam!), deparei-me outro dia com a palavra “sessão” e, pensando nela, fiquei embasbacada: a tal palavra com o mesmo som tem três possíveis grafias, cada uma com um significado diferente. Há a sessão de cinema, a seção de importados da loja e a cessão dos direitos para alguém. E se a gente cruzar com um mineiro (o William pode confirmar), ele provavelmente, ao nos elogiar, irá dizer: “seissão uma belezura!”. Imagine um estrangeiro que está aprendendo o português... Mais confusão. Isso se ele não se deparar com a palavra “secção”, do verbo seccionar. Pode cortar o ânimo dele, justamente quando ele estava achando que começava a aprender... e haveria confusão com a palavra “sexão”, que pode significar tanto uma relação (sexual) extremamente satisfatória quanto um órgão (idem) de grandes proporções. Está bem, confesso que nunca ouvi ninguém dizer esta palavra - certamente não por ausência de motivos, mas talvez porque eu tenha acabado de propô-la!

Há ainda muitos outros exemplos. Se fizermos um censo, veremos que é senso comum que nossa língua é mesmo uma dificuldade. Por isso é bom espiar no dicionário antes que nos sintamos na obrigação de expiar culpas por um texto ruim. Lembremos sempre que um escritor incipiente não necessariamente é insipiente; e que, ao invés de cerrar os olhos, melhor serrar as correntes que nos prendem à preguiça e colocar mãos à obra, consertar nossos erros para que nosso texto flua harmonioso como um concerto para violino e orquestra... além do que, hoje, com os dicionários on-line, nem é necessário que nos levantemos de nossos assentos para colocar os acentos corretos nas palavras.

Precisamos nos aprimorar com urgência para que, no dia em que até os erros de português forem taxados, nós, escritores amadores, sejamos tachados (com orgulho) de não contribuintes!

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Inspirada também na poesia do querido mineiro acima citado, William E. Silva: "Lares e Albergues". Visitem:

http://www.recantodasletras.com.br/poesias/406873